Iolanda Maria da Silva, 40 anos, solteira e sem filhos. Já foi feirante, mas hoje é desempregada. Cria dois sobrinhos e mora com o pai, que sustenta a casa. Esta é a vereadora mais votada de Paulista, na Região Metropolitana do Recife.
Eleita pelo PCdoB, a evangélica da Assembleia de Deus obteve seu mandato sem ajuda da igreja, que apostou num outro postulante, que não se elegeu. Mesmo sem verba, Irmã Iolanda foi eleita em grande estilo. Com 3.969 votos, 2,57% do total, foi a candidata mais votada da cidade, com números superiores aos de candidatos a prefeito. "Um milagre de Deus", de acordo com ela.
O segredo da futura vereadora é o assistencialismo. Ela tem um trabalho social que já dura 12 anos. Difícil é descrever a atividade.
"A irmã desenrola. Ela resolve as broncas da gente", afirma uma colega. Irmã Iolanda é o que podemos chamar de "quebra-galho". Com a ajuda de familiares e amigos, ela sustenta o CENASP (Centro de Assistência Social de Paulista), um espaço humilde onde recebe a população para receber as "broncas" a resolver.
Marcos, que tem uma venda ao lado do CENASP, não recebeu com bons olhos a reportagem do Blog. É praticamente um cão de guarda voluntário de Iolanda, amigo e defensor ferrenho da Irmã, que já resolveu uns problemas judiciais dele.
As "broncas" recebidas - e resolvidas - por Iolanda são as mais diversas. Desde marcação de cirurgias e consultas médicas, passando por previdência, retirada de documentos ("2ª e 3ª via grátis") e até casamentos. Tudo ela faz de graça. "Eu gosto de ajudar os outros", afirma.
Marcos, o segurança particular voluntário da Irmã Iolanda (Foto: BlogImagem)
A ideia de criar o CENASP começou depois de trabalhar com um vereador, há cerca de 15 anos. Ela gostava de trabalhar com o assistencialismo, mas não ficava satisfeita em só ajudar as pessoas em período pré-eleitoral. Irmã Iolanda colocou isso em prática na Feira de Rio Doce, em Olinda, onde manteve uma banca de verduras paralelamente ao trabalho na Câmara.
"Eu tirava o meu lucro e depois distribuía as verduras para a população da Favela do Rato, que fica próxima à feira. Mas eu não tinha pretensão de me candidatar", afirma.
Depois veio a ideia de quebrar o galho da população. Passou a receber em sua casa as pessoas que precisavam de alguma ajuda. A quantidade de visitas foi aumentando e ela precisou alugar uma casa - em frente á sua, para não deixar de cuidar da mãe. Foi quando recebeu a sugestão, de uma tia, de se candidatar a vereadora.
"Eu estava revoltada com a política, porque o vereador que eu ajudava havia perdido. Rejeitei a ideia, mas aquilo ficou na minha mente", lembra. Em 2004, largou a feira para se lançar pela primeira vez, pelo PTC, e já obteve mais de mil votos. Na segunda tentativa, em 2008, já enfrentou dificuldades para encontrar uma sigla.
"Os partidos pequenos não me queriam, porque sabiam que só iriam fazer um ou dois vereadores e que eu poderia ter mais voto que eles. Então os donos do partido não me aceitavam e acabei indo para o PTN [sigla que, na cidade, tem certa expressão]."
Este ano, já com três CENASPs instalados no município, atendendo a população de domingo a domingo, Irmã Iolanda enfrentou ainda mais dificuldades para encontrar um partido. Quem lhe abriu as portas foi Jorge Carreiro (PCdoB), que se elegeu vice-prefeito no pleito deste ano.
"Ela foi se tornando uma liderança notada no município. E nos interessava fortalecer o partido a nível municipal e investir na questão do gênero. Ela tem um papel relevante não só eleitoralmente, mas politicamente, com seu trabalho próximo à população", afirma.
A parceria rendeu bons frutos para os dois. A grandeza do PCdoB não neutralizou a candidata, que foi a mais votada. E seu excesso de votos contribuiu para eleger outros dois vereadores.
A festa da vitória foi grande. De acordo com Irmã Iolanda, havia mais de mil pessoas na rua da sua casa. Ela foi carregada numa caminhada pelas ruas do seu bairro, Torres Gavão, onde foi suprema nas urnas. Mas essa festa toda não passou na tv. A entrevista ao Blog de Jamildo é a primeira da vida de Iolanda.
"Eu tinha certeza que seria eleita, mas não com tantos votos", afirma. "Me deparei com muita gente de dinheiro. Mas consegui vencer. "Os políticos vêm nas eleições e vão embora. Eu não. Perdi, mas continuei junto do povo, ajudando como pude. E esse meu mandato veio pela força de Deus e do povo. Esse meu trabalho é sustentado por Jesus e pelos meus amigos".
MULHER - O município de Paulista não elegia uma mulher há 20 anos. As últimas (três) foram eleitas em 92, mas não se reelegeram no pleito seguinte. De lá para cá, apenas uma mulher passou pela Câmara: Matilde (PSL), suplente de um então vereador que se elegeu deputado. Mas em 2004 ela não renovou o mandato.
Apesar do simbolismo, Irmã Iolanda mostrou não conhecer tanto de políticas para as mulheres. Destacou apenas um ponto que o poder municipal dexa a desejar: o atendimento às vítimas de violência doméstica. Este serviço, aliás, ela já presta no CENASP, oferecendo psicólogos e/ou advogados às vítimas.
Ela destaca que se dá bem com o prefeito eleito, Júnior Matuto (PSB), além do seu vice, Jorge Carreiro, que é do mesmo partido da Irmã, o PCdoB. Ela prometeu cobrar. "Vou cobrar muito deles. Precisamos de muitas creches aqui em Paulista", avisa.
Na despedida, fica um recado para os dois. "O povo já pede que eu seja candidata a prefeita".
Veja a ficha de registro de candidatura da Irmã Iolanda, junto com sua declaração de bens.
Do: Vinícius Sobreira para o Blog do Jamildo.
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