Ameaçada por pescadores, o peixe-boi fêmea será levado para as praias de Alagoas.
O peixe-boi fêmea Natália terá um novo lar na próxima semana. Seu
destino será as praias de Alagoas. A espécime encontrou seu sítio de
fidelização - local onde escolheu para passar mais tempo - no rio
Capibaribe, nas imediações da comunidade Ilha de Deus, na Imbiribeira,
Zona Sul do Recife. Mas a poluição torna sua estadia perigosa. Além
disso, há também as ameaças da interação com a população. Mesmo
inofensiva, Natália foi ameaçada por algumas pessoas. Alheia ao risco,
ela chamou atenção dos moradores, principalmente, das crianças. Na
última quarta-feira (22), o dia foi de fotos e vídeos. E basta um pedaço
de cenoura para atrair a atenção do mamífero e, por tabela, ainda lhe
fazer uns afagos.
A coordenadora do Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) do Centro Nacional
de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (ICMBio), Fábia Luna,
explica que a espécie corre o risco de engolir um saco plástico e ter
entupimento do sistema digestivo. “Já estávamos preocupados com a
questão da poluição. Agora, há também o risco de as pessoas matarem ela.
Estão ameaçando dar tiro e comer. Não faz sentido isso. Ela é um animal
que vive uns 60 anos, nós cuidarmos por quatro anos. E, agora, ao
soltar na natureza, passar a sofrer essas ameaças”, lamentou. Natália
parece gostar daquela região. Talvez, porque, além das ameaças de
algumas pessoas, goste do calor humano com que é tratada pelas crianças.
Essa não foi a primeira vez que ela deu o ar da sua graça na Ilha de
Deus. No mês passado, junto com Clara, outra peixe-boi liberada pelo
CMA, também foi o centro das atenções. “Elas viviam juntas. Se embolavam
na lama quando a maré estava mais baixa. Quando a maré estava alta,
elas vinham até a beira para o pessoal alimentar com cenoura. Natália
chegou ontem e passou o dia aqui”, disse a pescadora Marta Patrícia
Alves, 33 anos.
Monitoramento - Clara e Natália foram cuidadas pelo CMA por três anos.
Depois disso, foram encaminhadas para um cativeiro em Alagoas, para
adaptação na natureza, por cerca de um ano. Depois desse período, já
livres, voltaram para Pernambuco. Elas são monitoradas por satélite, por
meio de um equipamento de rádio que fica preso às suas caldas. Em águas
pernambucanas, foram novamente levadas para Itamaracá. Atualmente,
Clara vive em Olinda. Enquanto Natália voltou para a Ilha de Deus.
“Monitoramos todos os animais que soltamos por um ano, diariamente.
Depois ma vez por ano capturamos para realizar exames. A gente monitora
por satélite e fazemos acompanhamento visual. Estamos diariamente com
elas, uma vez que estão em localidade preocupante. Natália e Clara estão
com cerca de 300 quilos. Elas perdem um pouco de peso logo que são
soltas porque precisam aprender a comer. Como não tiramos da água para
pesar, não posso dizer como está”, explicou.
Natália está na idade juvenil, com quatro anos e meio. A escolha do
local onde será solta não foi por acaso. É uma área de soltura dos
peixes-boi de cativeiro. Para isso, uma van será alugada e forrada com
colchão. “Nós vamos hidratando a pele e os olhos com água. Ao chegar,
colocamos numa maca e soltamos no rio”, finalizou a coordenadora.
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