quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Polícia Federal inicia investigação da morte de peixe-boi na Ilha da Crôa, em Alagoas.


 Animal teria sido executado com um tiro na cabeça dentro de uma unidade de conservação.


Foto: Divulgação
Animal passará por necropsia na sede do Projeto Peixe-boi, em Itamaracá, onde há estrutura apropriada para detectar a causa da morte
Animal passará por necropsia na sede do Projeto Peixe-boi, em Itamaracá, onde há estrutura apropriada para detectar a causa da morte
 A morte de um animal ameaçado de extinção e protegido por lei federal repercute desde terça-feira (28) entre os protetores do meio-ambiente em Alagoas.
  Um peixe-boi com aproximadamente 2,20 metros e com 230 quilos foi encontrado morto às margens do Rio Santo Antônio, na Ilha da Crôa, pertencente ao município de Barra de Santo Antônio, no litoral norte do Estado.
 “O crime foi cometido dentro de uma unidade de conservação federal, o que torna o crime ainda mais grave. A pena para quem mata um animal protegido vai de multa a prisão, e nesse caso a punição será dobrada”, afirma o pesquisador Pitágoras Viana.
   Ao que tudo indica, o peixe-boi foi executado com um disparo de arma de fogo na cabeça, mas o animal passará por necropsia na sede do Projeto Peixe-boi/ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), em Itamaracá, Pernambuco, onde a equipe possui estrutura apropriada para detectar a causa da morte.
  Pitágoras informou que agentes da Polícia Federal estiveram no local onde o animal foi encontrado para iniciar as investigações do crime.
  “A perícia foi feita pelos policiais federais e a partir de agora as investigações são de responsabilidade dos agentes. A equipe de monitoramento do projeto vai encaminhar o resultado da necropsia para a PF e também toda informação passada pela população”, explicou.
O pesquisador lamenta a crueldade com a qual ainda lida na sua rotina de trabalho.
   “Talvez esse peixe-boi seja o Fontinho. Ele foi resgatado no litoral do Ceará em 2009 e ficou conosco em Porto de Pedras até 2012, depois de passar por um período de reabilitação em cativeiro. Depois ele passou por mais um período de readaptação em ambiente natural, sendo monitorado por telemetria. Quando a equipe chegou à conclusão de que ele estava bem adaptado e que havia definido o estuário do Rio Santo Antônio como seu sítio de fidelidade, ele finalmente ficou livre, sendo monitorado por ocorrências”.
Projeto de preservação do peixe-boi existe há 20 anos
    O Projeto Peixe-Boi Marinho, desenvolvido pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), órgão ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), devolveu Astro e Lua ao seu ambiente natural em 12 de outubro de 1994.
   Os bichos foram lançados na praia de Paripueira, Litoral Norte de Maceió, e dali começou a história de luta pela preservação da espécie ameaçada de extinção no Brasil.
   O Programa de Manejo para a conservação dos Peixes-Boi realizou em 20 anos a soltura de 41 animais na natureza, entre os estados de Alagoas e Paraíba. Desses, 28 foram soltos no litoral de Alagoas, sendo 26 em Porto de Pedras, principal área de soltura do país.
 O projeto tem superado muitas outras iniciativas similares existentes no mundo e recolonizando áreas ocupadas no passado por esses mamíferos aquáticos.
   Estima-se que existam apenas 500 indivíduos na natureza. Em comparação a outros animais ameaçados de extinção no país, como a jaguatirica, por exemplo, é estimada a existência de 40 mil desses bichos, que habitam o Cerrado, a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica.
   Por ser um mamífero aquático de hábitos costeiros e comportamento extremamente dócil, a espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção. O maior risco para a vida desses animais, como se constata nos registros de casos como da morte do animal encontrado na terça na Ilha da Crôa, é a proximidade com o ser humano, seu maior predador.
   Após a criação do ICM-Bio, o número de reintroduções teve um aumento considerável. Entre 2008 e 2014, 26 animais foram devolvidos para o seu ambiente natural em nove translocações.
Caça no período colonial dizimou populações inteiras da espécie
  No período colonial, a caça intensa do peixe-boi dizimou populações inteiras da espécie. O mamífero foi extinto nos estados do Espírito Santo, Bahia e Sergipe.
  Registros históricos relatam que caravelas chegavam a sair do Brasil com um estoque de 500 indivíduos numa única embarcação. A carne do peixe-boi era muito apreciada e usada tanto para a alimentação da tripulação no percurso, como vendida como iguaria nos mercados europeus.
  A carne poderia ser conservada no próprio óleo do peixe-boi e durava de seis meses a um ano, o que era mais um atrativo, já que naquela época não havia refrigeração.
  Nos dias de hoje, a principal ameaça à espécie é a degradação do habitat natural para a instalação de fazendas de camarão e salinas, que prejudicam a conservação da espécie.
  Apesar de todo o trabalho de conscientização para a preservação da espécie, ainda existe a caça predatória do animal.
  Dos 41 animais reintroduzidos pelo Projeto Peixe-Boi em Alagoas, seis morreram, sendo que dois por não terem se adaptado à dieta, dois por pesca predatória e outros dois por ingestão de lixo e contaminação das águas.
  A perda do habitat natural é considerada a maior ameaça para o mamífero aquático, que é muito dependente do ambiente costeiro, estuarino, de manguezal, onde ele bebe água e se reproduz.
Tribuna Hoje.

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