terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Moradores de Itamaracá lamentam a partida de Rossi.

 Compositor, falecido na última sexta-feira, era apaixonado pela Ilha de Itamaracá, onde morou por quase 20 anos.


Lia de Itamaracá: parceria com Reginaldo, devoção na parede e boas recordações. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Lia de Itamaracá: parceria com Reginaldo, devoção na parede e boas recordações. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press



  Tema de tres canções de Reginaldo Rossi, a Ilha de Itamaracá, a 40 quilômetros do Recife, ainda vive o luto de ter perdido o maior defensor e garoto-propaganda. Passados funeral e sepultamento do cantor, no fim de semana, a voz do Rei do Brega ainda ecoa em bares, praças, quintais e carros, além de ter garantido vaga permanente na memória do povo. Amiga do artista há décadas, a produtora cultural Sara Cavalcanti parecia incrédula ao caminhar pela areia da Praia do Forte Orange, onde tantas vezes esteve com o artista. “Ele era apaixonado por Itamaracá, chamava de paraíso. Ao cruzar a ponte, dizia: ‘Agora, sim, estou na minha ilha’”.


  Ali próximo, embora os donos já tenham morrido, resistem ao tempo os bares do Deda e do Tião, tantas vezes visitados por Rossi. Nos anos 1970, quando ele frequentava com assiduidade a beira-mar, era comum flagrar os amigos em passeios de moto aquática. Ele não se arriscava nas manobras, mas assistia a tudo “admirado” em terra firme, onde se deleitava com um copo de uísque e Coca-Cola, a bebida predileta.


Lindinaldo na casa onde Rossi morou: Rei gostava de fazer churrasco com vários convidados. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Lindinaldo na casa onde Rossi morou: Rei gostava de fazer churrasco com vários convidados. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press



  Bem perto da muralha do Forte Orange, está a enorme casa onde Rossi morou por quase 20 anos. Era o refúgio onde descansava após os shows. Chegava de madrugada e costumava se deitar em um colchão na beira da piscina ou beber o resto da noite. O local preferido do cantor era embaixo do pé de azeitona, onde promovia churrascos para mais de 30 pessoas. Há 15 anos, o empresário Lindinaldo Guerra, amigo de Reginaldo, comprou a casa, quando o artista se mudou para Candeias, em Jaboatão dos Guararapes. “Ele vai fazer falta. O Brasil perdeu um dos seus maiores ídolos”.

  Em várias ocasiões, o cantor se apresentou na Praça do Pilar, a quilômetros do Forte. O último show, em 2012, foi visto de perto pela educadora Maria da Glória Pimentel. “Reginaldo brincou, disse que as mulheres iam molhar a calcinha e depois tirar para os homens cheirarem”, recorda, com os olhos cheios de lágrimas. “Disse que voltaria a morar em Itamaracá. Mas não deu tempo”.

  Moradora ilustre da ilha, a cirandeira Lia de Itamaracá lamentou não só a perda do amigo e parceiro musical, como também o fato de não ter tido condições de se despedir. Ela estava no Rio de Janeiro quando soube da notícia. “Não achei que ele fosse embora agora. A doença era séria, mas ele podia ter tido mais tempo de vida. Deixou uma saudade grande”. Na última vez em que dividiram o palco na ilha, Rossi brincou, como de costume: “Lia, quanto terminar aqui vou lhe levar pro motel”. “Era um homem sempre brincalhão, guerreiro, Meu coração está partido”.




A letra famosa

Itamaracá é uma ilha encantada
Lugar mais bonito que eu vi
Itamaracá é um reino encantado
E todos são reis por aqui

Ilha de sonho, de luz e de cor
Pedra que canta o amor
Essa areia tão branca
Teu céu e o teu mar
Paraíso é Itamaracá

Iê, Iê, Iê...

A saudade

  "Reginaldo é muito querido por todos. Quando chegava por aqui, várias pessoas pediam autógrafo e para tirar fotos. Ele atendia a todos com alegria. Eu tinha vontade de fazer isso, mas preferia deixar ele à vontade para curtir a praia. Fiquei muito triste e emocionada com a morte dele. Nosso rei era o símbolo maior e um grande fã de Itamaracá. Em vida, ele fez muito por nós".
- Kátia Cilene, microempresária

  "A música de Reginaldo é inesquecível. Ele era um grande artista. Já assisti a um show de três horas dele, em que nenhuma música era repetida. Tive a chance de vê-lo em apresentações mais íntimas, voltadas para magistrados, e pude ver que ele era uma pessoa alegre, tranquila, simpática. Do mesmo jeito que era no palco, ele era pessoalmente”.
- Francisco Monteiro, oficial de justiça

  "Quando minha filha disse que ele morreu, chega me deu uma tremedeira. Chorei o dia todo. Não pude ir ao velório, mas pedi a um conhecido para trazer um santinho para mim de recordação.”
- Maria Glória Pimentel, educadora

  "Sempre foi um cara muito carismático, brincalhão, gentil com todo mundo. Adorava zoar com os cachaceiros. Fui a um show dele há uns quatro anos. Vai deixar muita saudade para todos de Itamaracá”.
- Moacir Américo da Silva, ambulante


Do: DP.

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