No laboratório de uma escola pública, alunos e professores já transformam celulose em etanol. O desafio agora é produzir álcool em gel
Inês Calado
O município de São Lourenço da Mata, localizado a 18 quilômetros da capital pernambucana, ainda não é muito conhecido além da Região Metropolitana do Recife. Ainda. Em 2014, a cidade com menos de cem mil habitantes será uma das sedes da Copa do Mundo de futebol. Enquanto não abriga a Arena da Copa, os holofotes não apontam para ela. Mas por isso mesmo, uma pequena iniciativa em uma escola pública da cidade, sem muitos incentivos, chama atenção. Dois professores e três alunos estão transformando em um laboratório artesanal papel picado em etanol. "É muito difícil produzir etanol celulósico em laboratório. É bastante desafiador e ambicioso também", destacou, quando soube do projeto, o pesquisador José Manuel Cabral, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroenergia (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A Escola de Referência Ensino Médio Conde Corrêa de Araújo, com 527 alunos, é uma das 230 unidades do Estado que oferece ensino integral. Os alunos chegam no colégio às 7h e saem às 17h. As portas também estão abertas nos fins de semana. Para dar conta de tanto tempo, mantendo os estudantes motivados, é importante o desenvolvimento de projetos que envolvam a turma. Os professores Flávio Freire, de biologia, e Nelho Galvão, de química, resolveram unir conhecimentos para tirar (literalmente) do papel uma ideia que já vem sendo discutida no Brasil há pelo menos vinte anos: a produção de etanol a partir de celulose.
O processo começa com a coleta do papel e a fragmentação em um liquidificador, usando pouca água, até formar uma papa (já no laboratório). Depois, esse papel é colocado em um recipiente com solução aquosa de ácido clorídrico e, sob agitação, é realizada a hidrólise para a quebra da celulose em moléculas menores, como a glicose, facilitando, assim, a atuação do fungo", explica o professor Nelho. Em seguida, o sistema é neutralizado com uma solução aquosa de hidróxido de sódio. Diariamente, os alunos têm a reponsabilidade de medir o pH da solução, que deve ser neutro, para a atuação do fungo (o usado na pesquisa é o Trichoderma Harzianum). Nesta missão, o grupo se reveza. "A aferição do pH é feita com o uso de um equipamento chamado pHmetro. Os produtos usados na experiência são simples: ácido clorídrico, hidróxido de sódio, fermento biológico, fungo encontrado no solo (cultura feita na UFPE), papel e água.
Bem distante das pesquisas de ponta realizadas pela Embrapa, em São Lourenço da Mata o objetivo do grupo coordenado pelos professores Flávio Freire e Nelho Galvão é o mesmo da Empresa Brasileira de Agropecuária: produção de álcool sustentável sem precisar desmatar para construir novos canaviais. "A utilização do papel para a produção de etanol evitaria novos desmatamentos. Como não existe uma produção em larga escala, a ideia é cultivar nos alunos a educação ambiental com noções de sustentabilidade", explica o docente de biologia. "Esse é um meio absolutamente viável e sustentável", ensina a aluna Nataly Cibele, de 16 anos.
DESAFIOS no Processo produtivo do etanol na Embrapa
1. A primeira etapa é o pré-tratamento feito por processos físicos, químicos ou pela junção de ambos. A Embrapa Agroenergia trabalha com a junção dos dois métodos 2. A segunda etapa, a do desdobramento da celulose e hemicelulose pode ser realizada por métodos físicos, químicos ou biológicos. Na Unidade, os experimentos concentram-se nos processos biológicos, utilizando enzimas para degradar os polissacarídeos, transformando-os em pentoses e hexoses.
3. A terceira é a fermentação, onde leveduras selecionadas ou adaptadas consomem pentoses e hexoses, transformando-as em etanol.
4. Paralelamente à seleção e ao desenvolvimento de microrganismos, diferentes estratégias fermentativas têm sido estudadas para minimizar produtos inibidores e o número de etapas empregadas, visando aumentar o rendimento global do processo fermentativo.
HIGIENIZAÇÃO - A ambição dos alunos da Escola de Referência Ensino Médio Conde Corrêa de Araújo não termina com a transformação do papel picado em etanol celulósico. O grupo ainda estuda a possibilidade de criar álcool em gel para ser usado na higienização da unidade de ensino. "Precisaríamos isolar o etanol, através de um processo de destilação fracionada. Teríamos que ter no laboratório equipamentos como aquecedores para controlar a temperatura e destiladores", lamenta o professor Nelho. No entanto, eles ainda não desistiram e, nesse caso, as horas dedicadas no laboratório poderão superar, mais uma vez, a falta de recursos.
PASSO A PASSO DO PROJETO NA ESCOLA DE SÃO LOURENÇO
1. Primeiro o papel é picado e colocado em um recipiente com água. Depois, o papel é colocado em outro recipiente com ácido clorídrico para a realização da hidrólise.
2. Se o pH da solução não estiver em 7 (neutro), o papel é colocado em um recipiente com hidróxido de sódio. Os alunos precisam medir diariamente o pH da solução.
3. A transformação da celulose em etanol pode ser feita de duas formas. No laboratório da escola, os alunos aprendem através da hidrólise enzimática e também da ácida. No primeiro caso, uma reação química é catalisada por uma enzima (hidrolase) que utiliza água para quebrar uma molécula em duas outras moléculas. Já a hidrólise ácida é feita com soluções de ácido clorídrico. O processo produz uma solução de glicose que é fermentada a etanol.
4. Os produtos usados na experiência são simples: ácido clorídrico, hidróxido de sódio, fermento biológico, fungo encontrado no solo (cultura feita na UFPE), papel e água.
Do: NE 10.
no momento que estamos discutindo o desenvolvimento sustentável, taí uma boa ideia. Parabéns
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