terça-feira, 16 de junho de 2015

Aos 52 anos, peixe-boi fêmea Xica morre em Itamaracá.

Animal era considerado o mais antigo vivendo em cativeiro, no País.
Centro de Mamíferos Aquáticos não passou detalhes sobre causa da morte.


Xica, peixe-boi fêmea (Foto: Reprodução / TV Globo)Xica, peixe-boi fêmea, viveu por 22 anos em um tanque inadequado na Praça do Derby, no Recife, antes de ser transferida para o Centro de Mamíferos Aquáticos, em Itamaracá (Foto: Reprodução / TV Globo)
A peixe-boi fêmea Xica, 52 anos, a mais antiga a viver em cativeiro no Brasil, morreu neste domingo (14), no Centro de Mamíferos Aquáticos de Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife. O animal ficou famoso nos anos 1970, quando vivia em um tanque na Praça do Derby, na capital.
O Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) confirmou a morte, mas não passou mais detalhes sobre suas causas. "A previsão é que a necrópsia seja feita na segunda-feira, mas não tem um horário preciso, porque estamos esperando os profissionais que vêm de São Paulo, para trabalhar junto com a equipe daqui", contou Fábia Luna, coordenadora do CMA. O laudo emitido após o exame vai trazer o horário e a causa da morte.
Depois de uma longa campanha que teve direito até a processo na justiça, Xica foi transferida para Itamaracá, no início dos anos 1990. No Recife, o tanque em que ela viveu por 22 anos era pequeno e raso, o que prejudicou o desenvolvimento pleno de seus movimentos. Tendo chegado ao local ainda na adolescência, Xica acabou sofrendo uma deformação na coluna -- porque só nadava em círculos, sem mergulhar. Uma vez, quando o tanque foi esvaziado para limpeza, ela acabou queimando a pele ao se virar no local, o que lhe rendeu uma cicatriz no dorso.
Tanque na Praça do Derby era inadequado para a peixe-boi fêmea Xica (Foto: Reprodução / TV Globo)Tanque na Praça do Derby era menor que o necessário para Xica (Foto: Reprodução / TV Globo)
Cativeiro desde sempre
Xica se perdeu da mãe ainda filhote e ficou presa em uma espécie de armadilha para peixes em uma casa de praia em Pontas de Pedra, Goiana, Litoral Norte pernambucano. Em uma reportagem especial feita pelo programa Nordeste Viver e Preservar em 2013, por ocasião dos 50 anos de Xica, o juiz Márcio Rabelo lembrou como foi ver um peixe-boi pela primeira vez. "A água estava turva, aquilo subiu e vi que tinha duas narinas. Uma coisa diferente, um animal do mar que tem narinas. Foi uma surpresa total", relembrou. Ele tinha 14 anos na época e a armadilha estava instalada na casa de seu pai.

Por sete anos, Xica viveu em um tanque nesse imóvel. Nessa época, pensava-se que ela era um macho, e seu nome então era Chico. Apesar da matança de peixes-boi ser comum, a família decidiu mantê-la, até que terminou transferida para a Praça do Derby. A consciência ambiental não era como conhecemos hoje, e isso gerou muito sofrimento para o animal. Fora o tamanho do tanque, bem menor do que o necessário, nem sempre Xica recebia alimentação adequada. Também sabe-se que ela sofreu cortes e machucados causados pela população que ia visitá-la. A queimadura em seu dorso foi causada quando os tratadores esvaziaram o tanque para limpá-lo, em uma demonstração de que nem os responsáveis diretos por ela sabiam muito bem como lidar com um peixe-boi.
A Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan) tomou a dianteira para conseguir a transferência de Xica. A campanha foi intensa, visto que a peixe-boi fêmea era uma "celebridade" no Recife dos anos 1970 e 1980. Até uma simulação foi feita, usando um boneco, um guindaste e um caminhão, para mostrar como seria possível para o Ibama levá-la até o Centro de Mamíferos Aquáticos, em Itamaracá. A briga foi parar na justiça e, dez anos depois, foi determinada a transferência para o CMA. A operação levou um dia inteiro -- ao chegar em seu novo tanque, agora com tamanho adequado, Xica pôde mergulhar pela primeira vez, aos 30 anos.
Peixe-boi Xica pariu três filhotes, mas nenhum deles sobreviveu (Foto: Reprodução / TV Globo)Peixe-boi Xica pariu três filhotes, mas nenhum deles sobreviveu (Foto: Reprodução / TV Globo)
A peixe-boi mais famosa do Recife chegou a Itamaracá pesando 300 quilos -- quando, normalmente, um peixe-boi pode alcançar até 1 tonelada e 4,5m de comprimento. Rapidamente ela ganhou peso, graças às refeições regulares de legumes que lhe eram servidas. Depois de tanto tempo em sofrimento, Xica virou um animal ressabiado, que interagia menos do que os outros e preferia ficar sozinha em seu tanque. Mesmo assim, pariu três vezes, mas nenhum de seus filhotes sobreviveu.
Xica nunca se curou do desvio na coluna e as cicatrizes no dorso também a acompanharam até o fim. Apesar de ter recuperado seu peso e se tornado um animal saudável, toda uma vida em cativeiro tiraram dela a possibilidade de ser devolvida à natureza.  Segundo os especialistas do CMA, ela não se adaptaria ao habitat natural, novamente.
Risco de extinção
O peixe-boi está ameaçado de extinção no Brasil. O projeto Peixe-boi Marinho foi criado pelo governo federal nos anos 1980, para tentar reverter essa situação. Na década de 1990, pesquisas apontavam que a costa do país possuía uma população de apenas 500 animais, já estando extinto nos estados do Espírito Santo, Bahia e Sergipe. No início de 2013, novos estudos mostravam que o número havia crescido: cerca de mil peixes-boi já viviam no litoral brasileiro.

Toda uma vida de cativeiro tirou de Xica a possibilidade de ser reintroduzida na natureza (Foto: Reprodução / TV Globo)Toda uma vida de cativeiro tirou de Xica a possibilidade de ser reintroduzida na natureza (Foto: Reprodução / TV Globo)
 Do:G1/PE.

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