sábado, 11 de abril de 2015

Exportação de animais marinhos de Itamaracá para o Caribe gera polêmica.

Cinco mamíferos devem ser enviados na próxima semana para as ilhas de Guadalupe.


Bruno Campos/Arquivo Folha
Batizados como Netuno, Xuxa, Sereia, Marbela e Toquinho, animais têm de 5 a 29 anos
A exportação de cinco espécimes de peixes-bois marinhos que encontram-se em Pernambuco para as ilhas de Guadalupe, território da França no Caribe, vem causando polêmica. A iniciativa, prevista para a próxima semana, é do Governo Federal. Atualmente 19 animais podem ser encontrados no Centro de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), localizado em Itamaracá, a 48 km do Recife. O projeto tem encontrado resistência de ambientalistas e pesquisadores, que reforçam o perigo de extinção e elaboraram uma nota técnica na tentativa de derrubar a decisão.

Até agora foram colhidas 1.500 assinaturas em uma petição que deve resultar no ingresso de uma Ação Civil Pública. Contudo, de acordo com o Ibama e o Ministério Público Federal, todo o procedimento é considerado dentro da legalidade. “Estamos diante de argumentos pouco embasados, que colocam em risco todos os esforços concentrados na reintrodução da espécie na costa brasileira. A chegada nas águas caribenhas pode ser vista como uma ameaça, já que as duas populações são bem distintas, podendo resultar em doenças e anomalias genéticas”, explicou o pesquisador e médico veterinário João Carlos Borges, a frente da Fundação Mamíferos Aquáticos.
Segundo o especialista, o animal ainda é considerado o mais ameaçado de extinção no País, com estimativas para o tamanho da população entre 500 e mil espécimes. “A perda de habitats é agravada pela expansão urbana no litoral e a ocupação das zonas costeiras. Já registramos um total desaparecimento em estados como o Espírito Santo, Bahia e Sergipe. Por aqui, ainda são encontrados poucos exemplares nativos, a exemplo de Goiana e Ipojuca”, acrescentou.
Em documento encaminhado ao Ministério Público Federal, os especialistas elencaram os motivos desfavoráveis à transferência destes animais. Os elementos destacam a importância para pesquisas, justificando a manutenção em cativeiro natural, além de um programa de melhoramento genético. Ainda conforme o movimento contrário, uma carta manifestando preocupações também foi remetida ao Ministério do Meio Ambiente e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Percebemos um notório desinteresse pela fauna nativa em nosso País e precisamos convocar toda a sociedade para evitar um prejuízo ainda maior”, concluiu Borges.
Os peixes-bois selecionados para o repovoamento em Guadalupe já estariam em fase final de avaliação clínica e laboratorial para seguir viagem. “Trata-se apenas de um empréstimo, sem motivos para alardes. No momento em que houver qualquer necessidade, os animais serão trazidos de volta com totais garantias”, minimizou a coordenadora do CMA, Fábia Luna, lembrando que o cálculo de retorno é de cerca de dez anos. “Os mais velhos já reproduziram e seus filhotes já foram inseridos na natureza. Por estarem muito tempo presos, os músculos estão atrofiados e eles não sobreviveriam se não fossem acompanhados de perto”, acrescentou. Segundo a gestora do espaço, que funciona há 25 anos em Itamaracá, os animais batizados como Netuno, Xuxa, Sereia, Marbela e Toquinho, com idades entre 5 e 29 anos, já não possuem função ecológica. 
Da: Folha PE.

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