terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pesquisa questiona intervenções de educação continuada no tratamento da diabetes.


  Ao avaliar o custo-utilidade de uma intervenção de educação continuada para o manejo de usuários com diabetes mellitus tipo 2 no município de  Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife, a enfermeira Camilla Maria Ferreira de Aquino aponta que não existem comprovações que esse tipo de intervenção traga um benefício direto para o paciente e, em conclusão, a intervenção avaliada não representou alternativa custo-efetiva. Esse é o resultado da dissertação “Avaliação de Custo-Utilidade da Educação Continuada para o Manejo de Usuários com Diabetes Mellitus Tipo 2 no Município de Itamaracá, Pernambuco – Brasil”, sob a orientação da professora Adriana Falangola Benjamin Bezerra, no Programa de Pós-Graduação Integrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Pernambuco.

 O diabetes mellitus é uma doença crônica não transmissível (DCNT), grupo de enfermidades que foram responsáveis por mais de 33 milhões de mortes no mundo em 2008, representando 58% das causas de morte daquele ano. A educação continuada dos profissionais que cuidam da Atenção Primária de Saúde (APS) tem um papel central na prevenção, no diagnóstico precoce e no controle da doença. A capacitação profissional, ao melhorar os conhecimentos e a abordagem médica, tem o propósito de influenciar a melhoria da saúde dos pacientes.
 
 Para a realização do seu trabalho, a mestranda analisou a intervenção-modelo de educação continuada que fez parte do projeto “Educação em Saúde para o Autocuidado e Avaliação Contínua da Qualidade da Atenção ao Diabetes” (Qualidia), uma adaptação brasileira do o Modelo de Cuidados Crônicos, desenvolvido pela equipe do MacColl Institute for Healthcare Innovation, nos Estados Unidos. O Qualidia foi realizado durante um ano, entre 2011 e 2012, a partir de um acordo de cooperação técnica entre o Ministério da Saúde e a Fundação Médica do Rio Grande do Sul, tendo sido implantado em 10 municípios brasileiros, entre eles Itamaracá, onde se deu a análise da pesquisadora.

  O projeto se desenvolveu como uma estratégia de educação continuada, focando sua intervenção em representantes dos profissionais de saúde que compõem a equipe da Estratégia Saúde da Família e nos servidores da gestão municipal. Nas sessões de aprendizagem, foi utilizada uma série de estratégias educacionais para estimular a participação ativa dos profissionais no processo de ensino-aprendizagem e a construção coletiva do conhecimento.

  Para avaliar o custo-efetividade da intervenção, a pesquisadora utilizou o Modelo de Markov, que é a metodologia de escolha quando se pretende analisar doenças crônicas, devido ao seu caráter cíclico e longo período analítico (podendo durar até 20 anos ou uma vida inteira). Os dados quanto à efetividade da intervenção geraram quatro cenários hipotéticos de efetividade da intervenção, que foram comparados a um cenário de referência, que representa a situação de saúde sem qualquer intervenção. Após a análise, verificou-se que apenas o cenário mais satisfatório seria custo-efetivo, porém este representa a alternativa mais improvável de acontecer, o que torna a intervenção, no geral, não custo-efetiva.

  A pesquisadora avaliou também que o Qualidia se transformou apenas um projeto de educação continuada que, de acordo com ela, é uma medida ultrapassada em comparação à proposta de educação permanente do Ministério da Saúde, além de não existirem estudos conclusivos que avaliem a efetividade da educação continuada para o usuário. “Nossos resultados sugerem que investir unicamente na educação continuada, sem investir também em ações voltadas para a melhoria da estrutura burocrática e ação direta sobre a comunidade, não representa uma alternativa custo-efetiva”, afirma Camilla.

  Avaliações econômicas possuem, no geral, a função de aperfeiçoar a alocação de recursos. De acordo com a pesquisadora, ao se considerar os preceitos éticos envolvidos no setor da Saúde, as avaliações econômicas não devem ser determinantes na tomada de decisão, mas uma ferramenta importante nesse processo. “O desafio é fazer das avaliações de saúde um hábito no planejamento das ações, ao invés de participar apenas na fase de avaliação, como um medidor de fracasso ou sucesso de intervenções que foram já financiadas e implementadas”, afirma a pesquisadora.

   De acordo com a Camilla, a educação permanente poderia aparecer como alternativa para melhorar o tratamento dos pacientes. Diferente da educação continuada, que consiste principalmente em aulas teóricas expositivas, a EP se propõe a utilizar metodologias problematizadoras e abrir um espaço maior para que os profissionais relatem suas próprias experiências. Mesmo assim, ainda há uma escassez de estudos que comprovem a efetividade de ambas na saúde dos indivíduos.

Do: DP.

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