sábado, 23 de novembro de 2013

Uma merendeira cantora de cirandas.




  Por muitos anos ela caminhou exercendo dois ofícios: o de merendeira numa escola pública e o de cantora de cirandas. Esse último a tornou uma referência dessa cultura popular brasileira - dentro e fora do Brasil. Lia de Itamaracá, como é conhecida Maria Madalena Correia do Nascimento, que aprendeu ainda menina a arte das cantigas de roda na ilha do litoral pernambucano onde nasceu e onde vive até hoje, é considerada a maior cirandeira do país. Aposentada da função de merendeira, Lia de Itamaracá agora se dedica a divulgar a cultura pela qual luta para manter viva e estará hoje no Sesc Sorocaba para fazer uma apresentação, gratuita, às 19h, no Espaço Convivência.

  No show que faz hoje, Lia apresenta as canções que fazem parte do repertório do disco Ciranda de Ritmos, álbum de 2008, com direção musical de Carlos Zens. Conforme material enviado à imprensa, o conceito do disco inspira-se principalmente no músico saxofonista e compositor de 90 anos, que acompanhou Lia nos seus últimos 35 anos: Sr. Bezerra ou, como é também conhecido, Bezerra do Sax. Ele é autor de seis das 14 faixas do CD, composto por diversos ritmos como ciranda, coco, maracatu, frevo e maxixe. O trabalho contou, ainda, além da banda titular de Lia, com vários profissionais do cenário musical de Pernambuco e de Natal, como Carlos Zens e Pedro Paulo, este último mestre do cavaquinho e do violão de seis cordas. Estão no repertório Dança do povo (Bezerra do Sax); Quem me deu foi Lia (Baracho) / Moça namoradeira (Lia de Itamaracá); A vizinha (Direitos reservados); Morena de Pernambuco (Bezerra do Sax), entre outras músicas.

  Na década de 1960, a cantora pernambucana Teca Calazans cantou versos dedicados à cirandeira: "Esta ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá", dizia a música. Passou um tempo sem cantar até que na década de 1990 o produtor Beto Hees a redescobriu e a convidou para participar do festival Abril Pro Rock em 1998, o que a tornou conhecida internacionalmente. A cantora gravou, em 2000, o CD Eu sou Lia, que foi lançado também na França. Passou a se apresentar em diversas cidades e a ministrar workshops. Chegou a se apresentar na Suíça, Espanha, Itália, França e Alemanha. No mês passado, em Recife, uma exposição, Lia - A Ilha e a Ciranda, apresentou ao público objetivos pessoais usados nos longos anos de carreira da cantora considerada Patrimônio Vivo de Pernambuco e que gravou seu primeiro álbum,A Rainha da Ciranda, em 1977. Chico Buarque e Edu Lobo também prestaram suas homenagens à cirandeira na música Na Ilha de Lia, No Barco de Rosa, que começa com o seguinte verso: "Quando adormecia na ilha de Lia/Meu Deus, eu só vivia a sonhar".
Do: Jornal Cruzeiro do Sul.

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