O peixe-boi mais velho do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio), localizado na Ilha de Itamaracá, ao Norte do Grande Recife, chegou aos 50 anos. Xica, a aniversariante, é aquela que viveu confinada por 22 anos (1970-1992) num tanque na Praça do Derby, área central da capital pernambucana.
Foram 22 anos de sofrimento, diz a bióloga Maria Adélia de Oliveira, representante da Associação Pernambucana de Defesa da Natureza (Aspan). O animal morava num recinto raso e pequeno para suas dimensões: 2,45 metros de comprimento e cerca de 300 quilos de peso. Enquanto isso, o tanque tinha 12 metros de diâmetro e 1,5 metro de profundidade.
Sem espaço para se locomover, Xica, uma fêmea de peixe-boi marinho (Trichechus-manatus), nadava apenas em círculo, no sentido horário, o que lhe custou uma má formação lombar. Além disso, a água do canal da Avenida Agamenon Magalhães, cheia de esgoto, se infiltrava no tanque, nos períodos de maré alta, conta Maria Adélia.
“A gente via a água mudar de cor, quando a maré subia”, diz ela. Periodicamente, a prefeitura secava o recinto para dar banho em Xica, esfregando o corpo com vassouras. Num dos banhos, agitada, ela feriu as costas na areia acumulada no fundo do tanque. O machucado nunca cicatrizava. Como o lugar era raso, Xica vivia com as costas sempre ao sol.
Para completar, as pessoas chegavam muito perto do animal. “Davam comida e pipoca, tocavam nela, eram condições inadequadas”, lembra Maria Adélia. Por dez anos, a Aspan tentou levar Xica para um cativeiro natural, numa praia da Paraíba. Em 1990, com a inauguração de uma base do Projeto Peixe-Boi (na época ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama) em Itamaracá, a entidade iniciou campanha para transferir Xica para a ilha.
A Aspan recorreu ao Ministério Público, que obrigou o Ibama a fazer a transferência. Em agosto de 1992, com 29 anos de idade, Xica foi levada para o centro, onde permanecesse há exatos 21 anos. Lá, curou a ferida das costas e teve três filhos, mas nenhum sobreviveu. É a primeira peixe-boi do Brasil a parir em cativeiro. “Xica é uma vencedora”, resume Adélia.
A peixe-boi foi capturada num curral de pesca da Praia de Ponta de Pedras, em Goiana, Litoral Norte de Pernambuco, em 1963, ainda filhote. Passou sete anos num tanque, numa fazenda da mesma praia, até ser doada à Prefeitura do Recife e levada para a Praça do Derby.
O aniversário de Xica será comemorado até o fim de 2013, no CMA. Cartazes nos ônibus e nas escolas convidam a população para celebrar a data. O museu do centro preparou exposição com fotos de Xica, maquete do antigo cativeiro na Praça do Derby e painéis contando a história de vida do mamífero. Filme e palestra completam a programação.
O CMA (antigo Projeto Peixe-Boi e hoje vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio) abre para visitações todos os dias, das 9h às 16h. O ingresso custa R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Escolas públicas não pagam e visitas em grupo devem ser agendadas. O telefone do centro é 3544-1056.
Do: JC Online.