sábado, 15 de setembro de 2012

A cachaça, uma pernambucana.


O especialista Jairo Martins diz que a cachaça surgiu em

 Itamaracá.


JC - A cachaça surgiu intencionalmente ou por acaso?

 JAIRO MARTINS – A cachaça surgiu intencionalmente em algum engenho do litoral brasileiro, entre 1516 e 1532. O colonizador português, conhecedor do processo de destilação, sabia que qualquer líquido que contém açúcar poderia ser fermentado e destilado para ser transformado em álcool, pois já conhecia o processo de destilação da bagaceira. 

 Como na época das navegações os destilados tinham muito valor, logo fermentaram o caldo da cana e depois destilaram, dando origem à cachaça. A versão mais provável é que tenha surgido por volta de 1516 em Itamaracá ou Santa Cruz, em Pernambuco.

JC – Por que exatamente nesse trecho?

 JAIRO MARTINS – Partindo-se do princípio, como escreveu Câmara Cascudo, de que “onde mói um engenho, destila um alambique”, a primeira cachaça foi destilada em algum engenho de açúcar do Brasil. A versão mais divulgada é que a cachaça tenha surgido na Vila de São Vicente (SP), já que ali houve uma expedição oficial em 1531, chefiada por Martin Afonso de Souza, para a povoação do Brasil. 

 Uma expedição divulgada mundialmente, para que os ataques piratas à costa brasileira cessassem. O objetivo era mostrar ao mundo que o Brasil tinha dono. Como Martin Afonso implantou engenhos em São Vicente, diz-se que a cachaça foi destilada pela primeira vez em algum desses engenhos.

  Há pouco tempo, foi encontrado documento na Alfândega de Lisboa, datado de 1526, registrando a chegada de um carregamento de açúcar oriundo de Itamaracá, o que prova que em 1526 já havia engenhos em Pernambuco, implantados durante o regime das Feitorias e Sesmarias a partir de 1516, por dom Pero Capico, em Itamaracá e nas terras do Canal de Santa Cruz. 

 Devido à importância dos destilados na época das grandes navegações, a tese de Câmara Cascudo, acima citada, nos leva a concluir, com maior probabilidade, que a primeira cachaça foi destilada em Itamaracá por volta de 1516.

JC –Por que 13 de setembro é considerado o Dia Nacional de Cachaça?
JAIRO MARTINS – Devido à concorrência com a bagaceira e com o Vinho do Porto, a produção e a comercialização da cachaça foram proibidas pela coroa portuguesa entre 1649 e 1661. 

 Como a proibição de nada valeu, pois começaram a surgir vários alambiques clandestinos no Brasil, foi revogada em 13 de setembro de 1661. Esta data, que simbolizou a “libertação da cachaça”, foi escolhida como o Dia Nacional da Cachaça.

 JC - Por que o senhor afirma que o rum é filho da cachaça?

 JAIRO MARTINS – Embora a cana-de-açúcar tenha sido plantada já em 1494 na República Dominicana, os espanhóis, após encontrarem ouro no México e na Colômbia, não levaram à frente a produção de açúcar, que só foi retomada pelos holandeses expulsos de Pernambuco em 1654. 

 Como conheciam os processos de produção do açúcar e da cachaça, logo iniciaram a destilação da cana-de-açúcar, produzindo uma bebida que chamaram de tafiá, ou seja, a precursora do rum. Assim, o rum é filho, ou mesmo, neto da cachaça.

JC - Qual é o terroir mundial clássico da cana-de-açúcar?

 JAIRO MARTINS – A cana-de-açúcar encontrou o seu “terroir” em torno da linha do Equador, entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, não apenas pela alta incidência solar (condição para alto teor de sacarose), mas também pelo solo adequado. Originária da Papua, na Nova Guiné, e depois plantada na China e na Índia, a cana-de-açúcar encontrou as melhores condições de desenvolvimento no Caribe e no Brasil.

Do: Jornal do Comércio.

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