Na maior emergência do Nordeste, maioria é vítima de acidente de moto.
Hospital em PE tem de 100 a 120 leitos ocupados por acidentados de moto.
65% de indenizações do DPVAT no Nordeste são para acidentes desse tipo.
Daniel Cruz, de 36 anos, tinha acabado de sair de uma cirurgia na perna esquerda quando o G1 chegou ao setor de traumatologia do Hospital da Restauração (HR), no Recife (PE), na última sexta-feira (24). Em 2 de junho passado, ele fez uma ultrapassagem de moto em local proibido, uma curva, e chocou-se contra um carro. Após o acidente, teve um braço amputado.
A perna ainda corre o risco de ser removida. Mas nada se compara à dor de perder a mulher, que morreu no local do acidente, na PE-177, entre Garanhuns e Canhotinho, no Agreste de Pernambuco. "Cheguei desenganado, fiquei em coma muito tempo. Desde que estou internado, só vi a minha filha, de nove anos, uma vez", disse.
De janeiro a junho deste ano, o Nordeste foi responsável por 30% das indenizações pagas pelo seguro obrigatório DPVAT (Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre) no país, superando o Sul (27%) e o Sudeste (25%). Os dados apontam que, na região, 65% dos pagamentos do seguro no semestre passado foram para acidentes com motos.
O seguro DPVAT cobre casos de morte, invalidez permanente ou despesas com assistência médica e suplementares por lesões de menor gravidade causadas por acidentes de trânsito em todo o país.
Daniel Cruz já pediu o benefício. "Não sei quando e quanto vou receber, mas uma coisa é certa: mesmo se eu pudesse, não andaria de moto nunca mais", afirmou.
O Hospital da Restauração é a maior emergência do Nordeste e recebe a maior parte das vítimas de acidente de trânsito em situação grave em Pernambuco. A unidade tem 570 leitos habilitados, sendo que, em média, entre 100 e 120 são ocupados por pessoas envolvidas com acidentes de moto.
As vítimas ficam distribuídas nos setores de neurocirurgia, traumatologia, cirurgia plástica, queimados e cirurgia geral buco-maxilo-facial. Só em traumatologia, cerca de 75% dos leitos são destinados a esses pacientes.
Traumatismos múltiplos Segundo o chefe do setor de traumatologia do HR, Bernardo Chaves, o tempo de internação da vítima de acidente de moto é longo.
"O perfil do paciente vítima de acidente de moto que dá entrada no HR é o politraumatizado [quando tem presença de duas ou mais lesões traumáticas graves] associado ao TCE [Traumatismo Crânio-encefálico]. São pacientes que demandam uma equipe multidisciplinar e ficam, em média, entre 15 e 30 dias internados", disse o médico.
"Tempo longo, porque são muitas fraturas e lesões, em várias especialidades, a serem tratadas, além do que, há uma grande incidência de infecções", explicou.
O eletricista Josevaldo Souza, de 34 anos, está internado pela segunda vez no Hospital da Restauração. No último dia 10 de agosto, entrou na contramão em uma curva, na BR-423, em Jupi, no Agreste, e colidiu com um carro. Teve fratura exposta na perna e três dedos da mão esquerda foram amputados. "É a mão da embreagem, dá para continuar pilotando, é só apertar um botão. Eu gosto e vou continuar andando de moto do mesmo jeito", afirmou.
As amputações são comuns em acidentes de moto, principalmente de membros inferiores. A estimativa é que 11% dos pacientes saem do HR paraplégicos ou amputados. Se perdeu a pele, precisa de enxertos para fazer a cobertura - um procedimento doloroso.
As amputações são comuns em acidentes de moto, principalmente de membros inferiores. A estimativa é que 11% dos pacientes saem do HR paraplégicos ou amputados. Se perdeu a pele, precisa de enxertos para fazer a cobertura - um procedimento doloroso.
Mais de uma vítima por acidente Há sete anos, havia uma vítima para cada acidente registrado em Pernambuco. Hoje, estatísticas apontam 1,8 vítima por ocorrência. "Ou seja, há mais vítimas que acidentes. Esse dado se refere, principalmente, aos mototaxistas, comuns no interior de Pernambuco", disse o médico e coordenador do Comitê de Prevenção aos Acidentes com Moto, João Veiga.
"Além do motorista, o cliente também sofre algum ferimento ou morre", explicou. Geralmente, segundo ele, os garupas são as vítimas mais graves.
O choro de Vinícius Alves, de 9 anos, tomava conta do quarto andar do Hospital da Restauração, na tarde desta sexta-feira (24). A enfermeira havia chegado para fazer o curativo na perna esquerda da criança, que sofreu uma fratura exposta.
Há 13 dias, o menino estava na garupa de uma moto com o irmão Vitor, de 12 anos, no interior de Pernambuco. Era o primo de 14 anos quem dirigia. Nenhum dos três estava com capacete. Minutos após a partida, o veículo chocou-se contra um carro. A imprudência deixou o garoto com medo de andar de moto novamente. Os outros meninos não ficaram feridos.
"Lá onde eu moro é tudo perto, não precisa de capacete. A gente vê acontecendo com os outros e nunca pensa que vai acontecer com a gente também. Agora eu acho que só deve dirigir quem for maior, e de capacete. Às vezes, saio da sala para meu filho não me ver chorando, dá uma pena danada ver ele aqui", comentou a mãe, Joseane Alves.
"Lá onde eu moro é tudo perto, não precisa de capacete. A gente vê acontecendo com os outros e nunca pensa que vai acontecer com a gente também. Agora eu acho que só deve dirigir quem for maior, e de capacete. Às vezes, saio da sala para meu filho não me ver chorando, dá uma pena danada ver ele aqui", comentou a mãe, Joseane Alves.
Segundo o médico João Veiga, houve um aumento de 340% de acidentes com moto envolvendo crianças nos últimos cinco anos. Pelo menos 20 leitos do setor de pediatria do HR são ocupados por esse tipo de paciente. Meninos e meninas dificilmente ficam internados por menos de 45 dias e, muitas vezes, permanecem imobilizadas, entre uma cirurgia e outra. Vinícius ainda não tem previsão de alta.
De acordo com o médico Bernardo Chaves, a maioria das vítimas atendidas no HR trabalha se locomovendo com moto ou estava sob efeito de álcool na hora do acidente.
No último Dia dos Pais, o autônomo Márcio Lira Pereira, 45 anos, havia almoçado com as duas filhas e estava voltando para casa, quando foi atropelado por uma moto ao atravessar a Avenida Norte, em Nova Descoberta, no Recife.
Ele teve fraturas nos ossos do rosto e na perna, mas agradece por estar vivo. "Era um jovem que estava bêbado. Ele fugiu", falou.
Medidas para reduzir acidentes No primeiro trimestre deste ano, o Comitê de Prevenção aos Acidentes com Moto registrou uma queda de 21% no número de ocorrências. A entidade acredita que, neste trimestre, haverá um pequeno aumento nos números. A meta é redução de 6,7% ao ano, seguindo o que preconiza a Década de Ações de Segurança do Trânsito da Organização das Nações Unidas (ONU). Este pacto foi assinado por 135 países, entre eles o Brasil. Em dez anos, espera-se diminuir os acidentes em 50%.
Medidas para reduzir acidentes No primeiro trimestre deste ano, o Comitê de Prevenção aos Acidentes com Moto registrou uma queda de 21% no número de ocorrências. A entidade acredita que, neste trimestre, haverá um pequeno aumento nos números. A meta é redução de 6,7% ao ano, seguindo o que preconiza a Década de Ações de Segurança do Trânsito da Organização das Nações Unidas (ONU). Este pacto foi assinado por 135 países, entre eles o Brasil. Em dez anos, espera-se diminuir os acidentes em 50%.
João Veiga informou que, a partir deste ano, Pernambuco vai detalhar o número de acidentes por município. "Não vai ser mais o número de Pernambuco e, sim, de cada cidade, para chamar a atenção de cada prefeitura. A maioria dos acidentes ocorre na zona urbana e, nessa área, é responsabilidade do município disciplinar o trânsito", falou.
O coordenador ainda aponta que muitos pacientes precisam de fisioterapia após receber alta médica, e esse tipo de atendimento também deve ser oferecido pelo município. "E isso está bastante esquecido pelos gestores", comentou.
Do: G1/PE.
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