No Recife, mulher de 106 anos é exemplo de vida: 'quero viver mais'
Severina Lourenço da Silva faz ginástica, joga dominó, chora e ri à tôa.
Desejo para 2012 é poder ajudar na criação dos netos e bisnetos.
A cada ano que passa, as pessoas têm a impressão que o relógio corre
mais rápido. Há prazo para quase tudo: a tarefa da escola, a meta do
trabalho, a conta para pagar... Forçando todos a travarem uma luta
contra o tempo. Às vezes dá vontade de parar o ponteiro para alongar a
vida. Se em 365 dias já dá para fazer um bocado de coisa, quem dirá em
38.690. Foi com muita disposição que Severina Lourenço da Silva viveu
esses 106 anos e agora, na virada para 2012, ela só tem um desejo:
“quero viver mais para ajudar na criação dos meus netos e bisneto”,
disse. Em 15 de janeiro, ela competará 107.
Severina vence mais uma partida em parceira
com bisneto (Foto: Luna Markman/G1)
com bisneto (Foto: Luna Markman/G1)
Não pergunte quantos são, pois ela já perdeu as contas. Não por falta
de lucidez. Severina ainda é muito boa de prosa, mas a memória anda
falhando. “Também são muitos. E tem uns netos que moram no Rio [de
Janeiro], aí não sei qual foi o destino deles”, comentou. Os que
frequentam a casa dela, vira e mexe jogam dominó com a bisavó. Quer
dizer, aprendem como se joga. Ela adora ganhar "de buchuda” (por 6 x 0).
"Quando digo que minha bisavó tem 106 anos, niguém acredita. Queria
também passar dos cem para aproveitar bem muita coisa", falou o bisneto
José Pedro, 13 anos.
Esses momentos de diversão fazem Severina esquecer os difíceis pelos quais já passou na vida. Ela nasceu no Engenho Tamataú, em Carpina, Zona da Mata pernambucana. “Plantei na roça muito feijão, macaxeira, algodão, café, banana...”, gosta de repetir. Após o casamento, mudou-se com o marido para a Ilha do Leite, no centro do Recife. Teve quatro filhos, sendo três mulheres. “Ele morreu quando os meninos eram novinhos. Não sei ler, nem escrever. Criei eles lavando e passando roupa. Os amigos também ajudaram, porque não tinha parentes aqui. Quando estava sem comida, tinha um que dizia ‘bota mais água no feijão para a viúva’”, relembra aos risos.
Segredo
Esses momentos de diversão fazem Severina esquecer os difíceis pelos quais já passou na vida. Ela nasceu no Engenho Tamataú, em Carpina, Zona da Mata pernambucana. “Plantei na roça muito feijão, macaxeira, algodão, café, banana...”, gosta de repetir. Após o casamento, mudou-se com o marido para a Ilha do Leite, no centro do Recife. Teve quatro filhos, sendo três mulheres. “Ele morreu quando os meninos eram novinhos. Não sei ler, nem escrever. Criei eles lavando e passando roupa. Os amigos também ajudaram, porque não tinha parentes aqui. Quando estava sem comida, tinha um que dizia ‘bota mais água no feijão para a viúva’”, relembra aos risos.
Segredo
Severina mostra certidão de nascimento. Detalhe
para anel que ela não tira (Foto: Luna Markman/G1)
para anel que ela não tira (Foto: Luna Markman/G1)
Os cílios foram gastos de tanto enxugar as lágrimas segundo Severina.
“Mas ela é uma chorona. Chora quando vê um filme, quando sente saudade
ou tristeza. Até de felicidade mesmo”, entrega a filha Edite Correia, 70
anos. Apesar do constante chororô, Severina não é de guardar rancor.
Esse é, segundo ela, o segredo da longevidade. “Se uma coisa não tem
jeito, a gente se conforma e segue em frente. Sem marido também vivi
melhor. A gente brigava demais, porque eu muito ciumenta e ele,
mulherengo”, brinca.
O sorriso no rosto pode aparecer também quando um sarapatel é servido ou um brega toca na rádio. E o melhor é que a danada impressiona ao fazer uma coreografia na qual o corpo vai até o chão. De segunda a sexta-feira, às 5h, ela faz ginástica na Academia da Cidade, projeto de saúde coletiva da Prefeitura do Recife. "O povo lá fica tudo animado comigo, pois eu sou a única que danço mesmo. Desço até 'na boquinha da garrafa'”, ressalta. Por essas e outras, Severina já foi homenageada pelo programa.
Outra boa lembrança é a viagem que ela fez ao Rio de Janeiro, presente que recebeu do grupo de idosos que participa, as Irmãs da glória. “Era meu sonho. Sempre via ele [o Cristo Redentor] na televisão. Subi em um trem morrendo de medo, mas quando cheguei lá rezei tanto, mais tanto. Foi tudo muito lindo. Depois disso, digo que já posso morrer”, falou. Mas do jeito que vai bem de saúde – a catarata só apareceu há uns três anos, ela pode continuar sonhando com outras realizações. "Queria só aprender a fazer renda." A simplicidade encanta.
Pelos desafios que já venceu, Severina não tem medo de morrer. "Só tenho medo de bala. O bairro aqui está perigoso. Não era assim. Mas eu ainda acredito no Brasil", conta ela. A repórter não deixa de notar o anel com a bandeira nacional que ela usava no dedo indicador.
O sorriso no rosto pode aparecer também quando um sarapatel é servido ou um brega toca na rádio. E o melhor é que a danada impressiona ao fazer uma coreografia na qual o corpo vai até o chão. De segunda a sexta-feira, às 5h, ela faz ginástica na Academia da Cidade, projeto de saúde coletiva da Prefeitura do Recife. "O povo lá fica tudo animado comigo, pois eu sou a única que danço mesmo. Desço até 'na boquinha da garrafa'”, ressalta. Por essas e outras, Severina já foi homenageada pelo programa.
Outra boa lembrança é a viagem que ela fez ao Rio de Janeiro, presente que recebeu do grupo de idosos que participa, as Irmãs da glória. “Era meu sonho. Sempre via ele [o Cristo Redentor] na televisão. Subi em um trem morrendo de medo, mas quando cheguei lá rezei tanto, mais tanto. Foi tudo muito lindo. Depois disso, digo que já posso morrer”, falou. Mas do jeito que vai bem de saúde – a catarata só apareceu há uns três anos, ela pode continuar sonhando com outras realizações. "Queria só aprender a fazer renda." A simplicidade encanta.
Pelos desafios que já venceu, Severina não tem medo de morrer. "Só tenho medo de bala. O bairro aqui está perigoso. Não era assim. Mas eu ainda acredito no Brasil", conta ela. A repórter não deixa de notar o anel com a bandeira nacional que ela usava no dedo indicador.
Fonte: G1/pe.
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