Advogado criminalista da OAB ressalta que a injúria, caso a autoria seja identificada, será julgada como um crime comum, mesmo sendo publicada na internet.
Mais um caso de discriminação contra nordestinos ganhou destaque nas redes sociais nesta terça-feira (7). A vítima, dessa vez, foi a recifense Laura Marinho, designer, blogueira e proprietária de uma grife de acessórios. A pernambucana publicou em seu perfil no Facebook uma captura de tela na qual mostra um comentário abusivo sofrido em sua página do Instagram, postado na segunda-feira (6), no qual uma mulher ridiculariza o fato da mesma trabalhar com moda e ser nordestina.
A mulher, da qual se sabe apenas o nome do perfil no Instagram (@daniellebarretoo), postou um comentário no perfil da pernambucana: "estilista ...blogueira...e etc..sai toda semana nas colunas sociais no eixo Rio e Sampa ...Milão..NY...aonde a moda de verdade acontece, a moda não acontece no interiorzinho... Kkk" e completou: "Blogueira no sertão é mole, veste cabra, veste bode.. @laurinhamarinho".
Facebook/Reprodução
Comentários de cunho xenofóbico provocaram a revolta não só de Laura, mas de centenas de internautas
Laura fez uma espécie de "postagem-denúncia" no Facebook, onde
desabafou. "Gente, eu não costumo fazer esse tipo de coisa, acho até
desnecessário na maioria das vezes. Mas nesse caso específico, fui
vítima de descriminação e preconceito. Não consigo entender como uma
pessoa entra na página da outra pra fazer comentários como este. Isso é
crime, não aceito e não me calo. Tenho muito orgulho de ser pernambucana
e fico ARRETADA quando debocham da minha terra. Talvez isso não dê em
nada, mas eu tenho voz, sou uma cidadã e me sinto no dever de denunciar
tamanho absurdo. #revoltada", declarou.
Por telefone, em entrevista ao Folha PE, a designer
falou sobre o acontecido e seu sentimento. "Eu postei uma foto que não
tinha nada a ver com o comentário que essa senhora fez, na minha foto eu
estou de braços abertos, com o mar ao fundo, nada mais, não tem nada a
ver com moda. Isso nunca tinha acontecido comigo na internet, já chegou a
acontecer presencialmente em São Paulo, mas foi bastante diferente, a
atitude dela me deixou muito aborrecida", disse.
Laura também afirmou que já providenciou orientação profissional para
levar o caso à Justiça. "Estou tomando as providências necessárias para
que essa mulher pague pelo mal que fez não só a mim, mas ao povo
pernambucano, ao povo nordestino. Além de não me conhecer e postar um
comentário claramente direcionado a uma ofensa pessoal, ela ridiculariza
o fato de que se produza moda aqui.
Ela certamente não conhece nossos
estilistas, nunca deve ter visto uma peça de Renascença do nosso
interior, só para citar um exemplo. A moda não acontece só nas grande
metrópoles, muito menos deve ser uma ditadura. Temos aqui uma moda
diferente e linda, característica da Região. O sentimento é de revolta,
tudo está muito errado e a gente tem que mudar isso, algumas pessoas me
orientaram a deixar para lá, mas eu tinha que fazer alguma coisa. Não
adianta eu postar minha indignação e não tomar uma atitude mais séria,
da mesma forma como sempre estimulei outras pessoas a lutar contra o
preconceito com nossa Região".
O advogado criminalista da OAB, Dr. Maurício Bezerra, disse ao Folha PE
que o caso pode ser caracterizado como injúria e que a mesma pode e
deve reunir as provas para realizar um registro e uma ata notarial para
que a pessoa que cometeu o crime seja indiciada. "É um caso triste, e o
pior, ainda é uma prática comum. Com a internet e as redes sociais,
qualquer pessoa pode provocar um mal incalculável a outra pessoa ou
grupos, raças, etnias, regiões geográficas e afins, como ocorreu no caso
de Mayara Petruso, ano passado, que sofreu as consequências de proferir
uma série de discursos discriminatórios contra o povo nordestino.
Com
as provas e a identificação do autor, não será difícil fazer com que a
responsável pague pelo ato. Vale ressaltar também que, caso seja punida,
a pessoa responsável responderá pelo crime como se o mesmo tenha sido
realizado pessoalmente, mesmo que tenha lesado esta moça pela internet".
Da: Folha PE.
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