quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Lixo: um nó se apertando de todos os lados.




Serviços coletivos


De 0 a 1 (15 metrópoles avaliadas)
Avaliação RMR: 0,363
Média nacional: 0,739
Ranking (15 avaliadas): 13° lugar
Classificação: De ruim a péssimo
















Com o que se gasta todos os meses na gestão dos resíduos sólidos do Recife, seria possível comprar toda a frota de caminhões compactadores de lixo que atende à cidade - atualmente 110 veículos. São R$ 25 milhões, um dos maiores custos entre as capitais brasileiras. A informação é do doutor em Desenvolvimento Urbano Regional do Instituto de Tecnologia de Pernambuco, Bertrand Sampaio. "Cerca de 80% do que hoje é considerado 'lixo' poderia ser aproveitado para reciclagem ou compostagem, o que significaria uma economia imensa para os municípios. A coleta seletiva, por exemplo, é feita por 8 ou 10 cooperativas, que, de forma autônoma, recolhem os resíduos das ruas", alerta.
Mas o problema que envolve a gestão do lixo nas cidades não se restringe às deficiências de coleta e destinação. A falta de educação da população é um dos grandes agravos da questão. É o caso de trechos como a Travessa Ayrton Senna, no bairro de Roque Santeiro, em Itamaracá, sempre com lixo amontoado. A situação fica ainda mais crítica quando chove forte e a água do canal transborda a ponto de invadir as casas. "É horrível. Nem deixamos as crianças brincar no chão porque sempre aparecem ratos e baratas. E a culpa é dos moradores", reconhece a dona de casa Isabela Pereira, 23, garantindo ainda que a coleta é feita todos os dias, em horário fixo, mas duas horas depois os canteiros voltam a ficar cheios de lixo. "Não dá para se sentir bem. A área deixa a cidade mal vista e o turista acaba não vindo por aqui", opina.
Os moradores "culpados" só não têm ainda mais responsabilidade nessa conta porque, segundo estudos do Observatório das Metrópoles, que concebeu o Índice de bem-estar urbano (Ibeu), a ilha é o município metropolitano pior avaliado no quesito "serviços coletivos": 0,320, numa escala de 0 a 1, uma realidade "ruim ou péssima", em especial quando comparada ao índice médio nacional, de 0,739.
Se os índices ainda não são de conhecimento dos gestores públicos dos municípios da Região Metropolitana do Recife, as cifras gastas com o manejo e destino dos resíduos sólidos certamente o são. Muitos deles estão compilados nos Planos Metropolitano e Estadual Resíduos Sólidos. Ainda assim, quatro cidades da RMR ainda fazem uso de lixões e as demais sobrecarregam os dois únicos aterros sanitários da região, localizados em Jaboatão dos Guararapes e Igarassu, soluções que envolvem custos altos e são ambientalmente pouco eficientes, já que não é feito reaproveitamento dos resíduos. O plano para melhorar a gestão de resíduos sólidos da RMR envolve inaugurar, ainda nesta década, um terceiro Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) em São Lourenço da Mata. Já com relação à coleta, de responsabilidade municipal, ainda não existem planos curto prazo.




Plano é sanear 90% do Recife em 12 anos


Além do lixo, o indicador "Serviços coletivos" do Ibeu inclui fornecimento de energia elétrica, universalizado na RMR, abastecimento de água (amplo, apesar do racionamento que ainda atinge diversos municípios) e, claro, esgotamento sanitário. E este é outro quesito que faz o Recife despencar no cenário nacional. Atualmente, apenas 28,83% da área da cidade são cobertas pelo serviço de esgoto da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Um plano ousado pretende elevar essa condição a 90% em apenas 12 anos. É o programa Cidade Saneada, que prevê um aporte de R$ 3,5 bilhões da iniciativa privada e R$ 1 bilhão do poder público para trabalhar o centro urbano do Grande Recife. "Não poderíamos depender apenas dos governos estadual e federal. Não há como concentrar tanto recurso numa só área. A parceria público-privada proposta pela Compesa foi a forma de contornar o problema, que não é exclusividade de nossa região e tem o mesmo motivo: o crescimento das cidades sem o devido acompanhamento de investimento em estrutura básica", justifica o Diretor de Novos Negócios da Compesa, Ricardo Barreto. As empresas que investirem no projeto têm como contrapartida financeira a exploração do negócio do tratamento de esgoto pelo prazo de 35 anos.
Para se concretizar, o programa, iniciado em julho, precisa se apoiar na ação conjunta dos municípios. Isso porque os serviços só serão implantados em vias com a mínima estrutura urbana, o que não é o caso de muitas áreas, uma realidade pra lá de comum até em cidades de médio e grande porte. "É normal. De vez em quando aparece um rato, mas já acostumei", conta Betânia Félix de Oliveira, 32, enquanto observa alguns dos nove filhos correndo em frente ao barraco, descalços, na terra mesma onde corre a céu aberto uma grande quantidade de esgoto a céu aberto. Moradora de uma comunidade ao lado do Canal do Arruda, no Recife, sem renda ou educação, ela desconhece esse "mínimo" definido como condição básica para que o local, um dia, seja saneada. "Uma casa seria bom para criar os meninos. O resto a gente se vira", resume.

Do: Pernambuco.com.

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