'Eles foram expulsos porque não seguiam regras', diz supervisor do local.
Delegada diz que jovens não podem ficar nas ruas sem assistência.
Dependentes químicos denunciam que não
recebem atendimento médico na instituição.
(Foto: Michelle Farias/G1)
Um dependente químico que estava em recuperação na Instituição Manassés, localizada no bairro de Jatiúca, em Maceió, esteve, na tarde desta sexta-feira (14), no 6º DP para denunciar a instituição.
O caso chamou a atenção da delegada Maria Aparecida, que havia registrado uma ocorrência contra a mesma instituição no dia anterior.
De acordo com Maria Aparecida, os jovens relataram que no local não há acompanhamento médico e que, além de serem obrigados a vender canetas para manter a instituição, eles relatam que o tratamento é feito somente "através da fé", sem nenhum acompanhamento médico.
De acordo com a delegada, na quinta-feira (13), um jovem de 29 anos esteve na delegacia porque tinha sido expulso da instituição. Segundo Maria Aparecida, ele é pernambucano e estava há 20 dias na capital para fazer o tratamento.
“Ele esteve aqui porque não tinha para onde ir. Estava com o braço machucado e não tinha condições de ficar sozinho nas ruas ou dentro de ônibus lotados para vender qualquer coisa. Ele tinha que estar de repouso”, afirma a delegada.
Ainda segundo Maria Aparecida, no mesmo dia, os policiais estiveram na Instituição Manassés para saber o motivo que levou o dependente a estar sozinho nas ruas de Maceió.
Após ser procurado pela polícia, um representante da instituição esteve na delegacia e pagou a passagem de volta do jovem até Pernambuco.
“Ele se mostrou uma pessoa totalmente sem equilíbrio. Alguém que trabalha com pessoas não pode ser rude, pelo contrário, precisa acolher”, diz a delegada.
Nesta sexta-feira (14) mais um caso envolvendo a mesma instituição deixou a delegada preocupada. Um jovem de 19 anos foi expulso porque voltou a usar drogas com o dinheiro das vendas das canetas.
A reportagem do G1 esteve na delegacia e conversou com o jovem, que pediu para não ter a identidade revelada.
Instituição Manessés trata dependentes químicos
há 15 anos no Brasil (Foto: Michelle Farias/G1).
O rapaz, que é da Paraíba e veio para Alagoas através da instituição para fazer o tratamento, disse que ele e a família assinaram um contrato para o início do tratamento.
A família paga a passagem para o estado que há vagas para o tratamento e uma taxa no valor de R$ 400 para a manutenção dos primeiros 15 dias na instituição.
“No início ele disse que minha mãe só pagaria a passagem. Depois eles começaram a pedir mais dinheiro para várias taxas. Desde que cheguei, só tive um tratamento com dentista.
Eles colocam a gente nas ruas para vender e temos que bater metas. Preciso de mais ajuda para sair do vício”, diz o rapaz.
Um representante da Manassés, que tem sede em outras 23 cidades brasileiras, esteve novamente na delegacia, mas não conseguiu resolver o problema.
O impasse só foi solucionado quando o supervisor da instituição que fica no Recife, em Pernambuco, André Araújo, esteve na delegacia.
Araújo ficou bastante nervoso quando a delegada perguntou porque o jovem de outro estado havia sido colocado na rua.
“Ele é um vagabundo e já fez isso na semana passada. Nós demos uma segunda chance, ligamos para a família, mas ele não quis se recuperar. Ele gastou R$ 100 com drogas, esse dinheiro é da instituição.
Vim disposto a resolver o problema e o que a senhora [delegada] quiser que eu faça, vou fazer”, frisou o supervisor.
Porém, o rapaz rebateu as acusações e disse que a família não havia sido comunicada sobre o ocorrido. “Não teve nada disso.
Assumi meu erro, mas foi a primeira vez. Usei droga, mas gastei apenas R$ 8. Preciso de ajuda e não posso ser tratado como um cachorro”, afirmou o jovem.
Supervisor da Instituição Manessés, André Araújo.
(Foto: Michelle Farias/G1).
O supervisor propôs pagar a passagem para que o jovem pudesse retornar para a Paraíba, mas como só tinha vaga para o sábado (15), ele vai ficar em uma pousada.
“Queria que ele ficasse na instituição, mas senti que o supervisor não queria, por isso ele vai ficar na pousada e depois seguirá para a sua casa”, diz a delegada.
A delegada disse ainda que irá encaminhar o caso para o Ministério Público Estadual para que eles possam analisar a situação da instituição.
“Quero que o MP tome uma providência, porque um jovem não pode ser colocado nas ruas, sem ter para onde ir”, diz.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Alagoas (OAB/AL), Daniel Numes, diz que essa é uma situação constrangedora para a instituição.
“Nesse caso ele não deu uma assistência mínima para que essa pessoa voltasse para casa. Se esse jovem não tivesse procurado a delegacia, ele estaria vagando nas ruas”, diz.
“Esses jovens não podem ir jamais para as ruas para trabalhar com dinheiro. Várias pesquisas já comprovaram que esse tipo de tratamento não funciona, porque as instituições obrigam as pessoas a seguirem uma determinada religião que muitas vezes não é a que eles seguem”, afirma o superintendente.
Secretaria da Paz.
A reportagem do G1 entrou em contato com o superintendente de Promoção da Cultura de Paz de Alagoas, Adalberon Sá Júnior, para saber como funciona o tratamento de um dependente químico.
Segundo ele, todas as instituições ligadas ao Estado, além do tratamento religioso, precisam dar acompanhamento médico e psicológico.
Segundo ele, o Estado abre todo semestre o edital para que as instituições filantrópicas possam ser contratadas pelo governo. Elas precisam seguir um regulamento e ter um acompanhamento psicológico adequado.
“Elas colocam o rótulo que não têm ajuda financeira , mas isso não é verdade. O governo paga para que esses jovens possam permanecer na instituição, eles não precisam vender nada.
Agora falta interesse dessas instituições para se adequar às normas. Muitas vezes o tratamento de qualidade não resolve, imagina esse que é apenas baseado na fé. Não questiono a religião, mas que o tratamento seja de qualidade”, afirma.
Do: G1/PE.
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