terça-feira, 28 de agosto de 2012

Universidade Rural ajuda comunidade de Porto Jatobá, em Abreu e Lima, a melhorar o design e a venda das peças.


 Conchas de mariscos, escamas e pele de peixes normalmente descartados após o processamento do pescado estão virando peças decorativas e utilitárias em Porto Jatobá, Abreu e Lima, Zona Norte do Recife. A comunidade pesqueira, que iniciou a atividade em 2007 por conta da poluição no Estuário do Rio Timbó, hoje recebe o apoio da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para melhorar o design e a comercialização do artesanato.

 As flores são o carro-chefe da produção. Inicialmente de conchas de moluscos, agora são feitas também de escamas de peixe. “Em 2005, depois que uma fábrica de lixas começou a sujar o rio, a gente ficou sem ter o que pescar. Foi aí que surgiu a ideia de fazer artesanato”, lembra a pescadora Marlene Ferreira do Nascimento.

 A matéria-prima é abundante na comunidade. Depois de catar o marisco ou sururu, as pescadoras fervem o molusco para que a carne se desprenda da casca. O resíduo, então, é descartado em volta das casas. O processo é o mesmo desde a pré-história, quando tribos que habitavam o litoral formavam os amontoados de conchas chamados sambaquis.

 Além de flores, as mulheres produzem chaveiros, ímãs de geladeira e outros suvenires com formas de animais marinhos, tudo de conchas, que elas chamam de cascas. O acabamento é feito com massa de biscuit, mas projeto da UFRPE prevê a substituição do produto por cola fria. “Por ser transparente, confere uma aparência mais natural às peças”, diz a professora Weruska de Melo Costa, do Departamento de Biologia da UFPE.

 A intervenção da universidade inclui um curso de 30 horas que será realizado entre outubro e novembro, para 25 pescadoras que atuam no Porto Jatobá. “Além de aperfeiçoar o artesanato, elas aprenderão a curtir, usando produtos de origem vegetal, o couro do peixe”, adianta Weruska Costa, coordenadora do projeto de extensão da UFRPE na comunidade, que conta ainda com o envolvimento de professores do Departamento de Economia Doméstica.

 A marca, batizada de Mareart pelas pescadoras, receberá tratamento gráfico. “Além de qualificar o artesanato, melhorando o design e a apresentação das embalagens, vamos orientá-las a vender o produto sem a necessidade de atravessadores”, afirma.

 Para Edneusa Ferreira da Silva, chamada de Ninha, melhorando o design, as pescadoras poderão aumentar o preço do artesanato. “Hoje tem peça de R$ 1,5, no máximo R$ 3. Rosas bem trabalhadas podem custar R$ 10 ou R$ 15”, compara.

 Ampliar o leque é outro objetivo. “Com as rosas de escamas podem ser feitos anéis de guardanapos, prendedores de cortinas, difusores de aromas e pesos de papel”, detalha a coordenadora. A engenheira de pesca conduz na unidade acadêmica da UFRPE em Serra Talhada, no Sertão, projeto semelhante, só que utilizando escamas e couro de tilápias cultivadas em tanques-redes instalados em açudes.

 Para Jasilma Amorim Muller, que atua na mobilização da comunidade, a produção de artesanato é uma forma de valorizar o trabalho das pescadoras. “Transformar o que era encarado como lixo em arte aumenta a autoestima das marisqueiras, acostumadas ao trabalho duro em casa e também na maré”, justifica Jasilma.

Novos sabores chegam das águas do Rio Timbó

 A espécie mais abundante no estuário do Rio Timbó, onde, de acordo com a Colônia Z-33, atuam mais de 350 pescadores, é a manjuba. Pequeno, com menos de 40 centímetros de comprimento, o peixe tem pouca importância econômica, variando o preço do quilo de R$ 0,30 a R$ 0,50. Para agregar valor ao produto, marisqueiras do lugar estão fazendo torta salgada, empadinha, bolinho de peixe, pastel e até coxinha de manjuba.

 A ideia surgiu em setembro de 2010, quando a Colônia Z-33, que abrange o município de Abreu e Lima, recebeu o convite para montar uma barraca na 1ª Feira Estadual da Agricultura Familiar e Reforma Agrária.
“A gente tinha manjuba à vontade. Investimos só R$ 50 em ingredientes para fazer os pratos. Quando terminou a feira tinha apurado R$ 700”, lembra Luzia Ferreira da Cunha, conhecida como Neta na comunidade.

 A partir da feira, não pararam de surgir encomendas. “Pelo menos uma vez por semana a gente recebe um pedido. Geralmente é pra festa de aniversário ou quem tá organizando algum evento”, informa Neta. Salgada e processada com verduras, a manjuba é a base do cardápio, mas as mulheres da Colônia Z-33 também usam carapeba e saúna no preparo dos quitutes.

 Entre os doces, os destaques são o brigadeiro de macaxeira e o enroladinho de banana. Como a comunidade pesqueira está na zona rural do município, a fruta e a raiz são abundantes nos sítios. “As pessoas gostam do brigadeiro, mas o enroladinho de banana é o preferido. Dos salgados, o mais pedido é a torta de peixe”, afirma a pescadora Nilda Santos.

 Para o presidente da Colônia Z-33, Manuel Vicente Rodrigues Filho, chamado de Dega pela comunidade, a culinária representa mais uma alternativa de renda para as mulheres. “Geralmente elas catam marisco, sururu, unha-de-velho, que é um trabalho mais feminino, mas também não dá muito dinheiro. Além disso, ajudam os homens a tratar o pescado, quando voltam da maré. Sem falar no cuidado com a casa e as crianças”, descreve.

 A importância do trabalho para a conservação ambiental é outro destaque. “Com a manjuba é a mesma lógica do artesanato: as mulheres acabam aproveitando uma coisa que que tem pouco ou nenhum valor. Com isso, aumenta a renda e diminue a quantidade de lixo.”

As encomendas das iguarias de manjuba podem ser feitas pelos telefones 8662-1423, 8661-8863 e 9786-5417.
Do: NE 10.

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