A equipe faz uma quarentena nas piscinas da sede, dando leite preparado especialmente para o animal
Leonardo Heffer
Do NE10 / Ceará
Amanhece no Ceará. Para muitos, o novo dia é de uma rotina puxada, marcada pelas mesmas ações diárias das obrigações e afazeres. Mas, para quem trabalha na Aquasis, uma Organização Não Governamental de proteção a animais, o novo dia é imprevisível. A ONG, criada em 1994 por alunos e professores das universidades federais e estaduais do Ceará, surgiu com base na preocupação de preservar espécies ameaçadas de extinção. Hoje, 18 anos depois, entre voluntários e integrantes da ONG, o "trabalho de formiguinha" permanece.
Eles combatem a extinção de quatro espécies: duas marítimas (peixe-boi e o boto cinza) e duas aves (soldadinho do Araripe e periquito cara suja). De acordo com a Organização, no litoral cearense só existem, em média, 50 peixes bois. Já os botos cinzas, na área do litoral do mucuripe (em Fortaleza), são pouco mais de 40. As aves somam cerca de 800 indivíduos de cada espécie, que só existem no Ceará.
"Esses animais estão em perigo extremo de extinção. Se não houver um trabalho de conscientização das pessoas, a tendência é piorar", afirma a bióloga Carol Meirelles. E é preciso mesmo atenção para esses animais. Segundo a ONG, de 2000 até 2011, já encalharam no litoral cearense, 356 mamíferos marinhos, incluindo baleias, botos, golfinhos e peixes-boi. "E isso é só o que registramos, porque pode ter havido muito mais do que isso", diz a bióloga.
*Passe o cursor do mouse sobre o gráfico, para visualizar o número de encalhes por ano
O peixe-boi, após o nascimento, passa pelo menos dois anos ao lado da mãe, e precisa de águas calmas e de preferência doce para a alimentação.
Aliás, eles são uma das principais preocupações dos que fazem parte da Aquasis. Nos últimos anos os registros de encalhes de filhotes no litoral tem aumentado consideravelmente. Segundo a bióloga, esse aumento se deve à alteração do habitat ideal para o desenvolvimento dos filhotes ao lado das mães.
O peixe-boi, após o nascimento, passa pelo menos dois anos ao lado da mãe, e precisa de águas calmas e de preferência doce, para a alimentação. Os locais mais apropriados são os rios e mangues que existem no litoral do estado. Mas segundo a bióloga, os mananciais, principalmente no leste do Ceará estão sendo degradados. Além da poluição, a criação de fazendas de camarão de água doce estão mudando as condições naturais para os peixes-boi se desenvolverem. Sem espaço nos rios, o desenvolvimento desses animais tem acontecido no próprio mar. Mas, muitas vezes, os filhotes são levados pelas correntes marítimas e acabam encalhando no litoral.
Mesmo com o resgate realizado pela Aquasis, a sede no Ceará não possui infra-estrutura para fazer a total reabilitação do animal. No estado, a equipe faz uma quarentena nas piscinas da sede, dando leite preparado especialmente para o bicho, e assim que recuperam as forças do animal, ele é levado de avião, com o apoio do governo cearense, para o Centro de Mamíferos Aquáticos, localizado na Ilha de Itamaracá, no Grande Recife, onde o animal passa por todo o processo de reabilitação e depois solto no litoral de Sergipe ou Alagoas.
Animais atendidos pela ONG
Mas ainda há esperanças para esse problema. A Aquasis está construindo um novo centro de reabilitação com verba de um convênio com a Petrobrás. A ONG foi uma das poucas selecionadas no País para receber financiamento destinado a projetos ambientais. O novo centro terá tanques maiores, onde poderá ser feita toda a reabilitação do animal e a soltura no litoral cearense. O investimento do novo equipamento está em torno de R$ 2 milhões e tem previsão para ser inaugurado em agosto deste ano.
TRABALHO SÓCIO-EDUCATIVO NAS COMUNIDADES
Não puxar pela cauda, proteger a pele do animal do sol, no caso dos golfinhos, já que ela é sensível e queima fácil, são apenas algumas das várias instruções repassadas aos pescadores e moradores próximo ao litoral. Além disso, todos recebem informativos e cartilhas com um número de telefone para acionar a equipe de resgate da organização, que fica à disposição 24 horas.
Já as crianças aprendem o trabalho de educação ambiental. Aulas de músicas, resgate de danças típicas das regiões e a compreensão de como funciona o ecossistema, tudo isso elas veem na prática e repassam para colegas e familiares. Foi dessas iniciativas que surgiu a Brigada da Natureza.
As crianças aprendem o trabalho de educação ambiental, veem na prática e repassam para colegas e familiares.
"Já conseguimos mudar muita gente errada", afirma Dhemys Rafael, de 14 anos. Há um ano ele participa da brigada junto com Marian Ferreira, também de 14 anos, e juntos já atuaram em várias ações de conscientização na praia. "As pessoas precisam saber que um plástico no mar pode prejudicar todo um ecossistema; então, a gente tenta fazer com que eles não façam mais isso e nos ajudem a salvar o planeta", afirma Marian.
Para conhecer mais sobre o trabalho da Aquasis, acesse: http://www.blogger.com/www.aquasis.org ou http://www.blogger.com/www.projetomanati.org.br
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