quarta-feira, 2 de maio de 2012

Revelado no Santa Cruz, Rovérsio está há oito anos na Europa.


Na defesa do Osasuna, Rovérsio (D) segue os passos e até os gestos do astro Cristianos Ronaldo (Foto:Alvaro Barrientos/AP)


 
O mais experiente dos pernambucanos que atuam na Espanha, Rovérsio foi o único a sair de Pernambuco para a Europa. O único que pode-se dizer aproveitado por um dos grandes do Recife. Revelado no Santa Cruz em 2004, foi negociado com o Gil Vicente, de Portugal, onde passou três anos. Transferiu-se para o Paços de Ferreira na temporada seguinte, mas logo atraiu o interesse do Osasuna. Foi contratado pela equipe espanhola em 2008 e está concluindo a sua quarta temporada, tendo sido cedido durante um ano ao Bétis. Algumas lesões estiveram no caminho do jogador de 28 anos, atrapalhando a sequência desejada, e o jogador ainda não decidiu seu futuro para a próxima temporada. Nascido em Igarassu e criado em Itamaracá, Rovérsio confessa que continua torcendo pelo Santa Cruz ("Vem de família") e ainda se lembra do Arruda lotado ("São coisas que não se apagam da memória da gente"). Mas, casado com uma portuguesa (Joana) e prestes a ser pai, diz que não pensa em voltar para o Brasil nem tão cedo. A não ser para as férias, já que não troca Itamaracá nem pelas badaladas praias de San Sebástian, no Norte da Espanha, perto de Pamplona, a cidade do Osasuna.

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Depois de se profissionalizar, Rovérsio ficou menos de um ano no Santa Cruz (Foto: Arquivo/JC Imagem)


Ficha do jogador

Nome: Rovérsio Rodrigues de Barros
Posição: Zagueiro
Data de nascimento: 17-01-1984 (28 anos)
Local de nascimento: Igarassu, Pernambuco, Brasil
Clube: Osasuna
Clubes anteriores: Santa Cruz, Gil Vicente-POR, Paços Ferreira-POR, Bétis-ESP
Entrevista com Rovérsio

Do que você se lembra do seu início no Santa Cruz e quanto exatamente durou a sua passagem no futebol pernambucano?

Eu cheguei no Santa Cruz com 16 anos. Primeiro tive que fazer um teste em Ouro Preto, em Olinda. Era a equipe B do juvenil do Santa Cruz. Fui fazer um teste e logo com uns meses me mandaram para o Arruda, para o juvenil A, e fui para lá treinar, ia começar o Campeonato Pernambucano Juvenil. Acho que isso foi em 2000. Bom, em 2004 eu cheguei ao profissional com 20 anos. A diretoria e o pessoal falou comigo que jogasse o campeonato pelo time B de Ouro Preto porque o time já tava praticamente fechado. Disputei o campeonato pelo time de Ouro Preto. No ano seguinte fui para o Arruda, joguei no juvenil, e depois nos juniores, acho que a gente sempre foi campeão pernambucano nessa época. Disputei tres Taças São Paulo. A minha primeira oportunidade entre os profissionais foi no Torneio do Vietnam, no final de 2003; para não dar férias teve esse torneio. A gente passou 24 dias, foi campeão, deu as férias. Depois, fiquei treinando no profissional e tive a oportunidade de estrear pelo no Pernambucano em 2004. Joguei até a final, a gente podia perder de dois e perdemos de três para o Náutico. Joguei uns seis jogos na Série B. Em junho, teve a proposta do Gil Vicente. Era o melhor para mim.


Rovérsio (o segundo à esquerda do troféu) esteve no time do Santa que venceu um torneio no Vietnam no fim de 2003 (Foto: Arquivo pessoal)

Ao chegar na Europa, você sentiu que tinha muito o que melhorar em termos de fundamentos?

Olha, eu acho que a categoria de base no Brasil depende dos cubes, mas onde passei não ficou a desejar em termos de fundamentos, na forma de trabalhar. Pelo contrário, só me ajudou bastante esse tempo que tive aí na divisão de base e no profissional do Santa Cruz. Aqui, no caso no Gil Vicente, ao menos eu não tive dificuldades de o treinador chegar e pedir trabalhos específicos. Em fundamento não. Mas em jogo é diferente. O futebol brasileiro é mais cadenciado e de toque de bola. Aqui é um jogo mais rápido, mas pegado. Aí no Brasil um jogador tem muito tempo para pensar com a bola no pé. Você pode levantar a cabeça e pensar onde vai tocar. Aqui é mais dinâmico, mais rápido, essa foi a dificuldade que eu tive aqui, mas nada contra, porque a forma de jogar no Brasil é diferente. Não é uma coisa que tenha ido em contra ao que me ensinaram aí.

Como foi a sua adaptação ao futebol de Portugal?

Quando eu saí do Brasil, com 20 anos, foi muito difícil. Foi legal por eu ter vindo com o Sidraílson e o Edson Mendes. Edson era casado, e eu e Sidraílson, não. A gente ficou num apartamento, e foi legal porque um confortava o outro num momento mais difícil, mas, em termos de jogo, foi bom porque eu joguei bastante na primeira época no Gil Vicente. O segundo ano também, o terceiro... No quarto ano eu fui para o Paços Ferreira. Assinei de 3 anos, mas logo no fim da primeira teve a proposta do Osasuna. Eu vim para a Espanha em 2008. E pronto. Tou aqui há quatro anos. Ano passado eu fui emprestado ao Betis e, graças a Deus, fomos campeões (da Segunda Divisão da Espanha). Eu voltei ao Osasuna e estou contente.


Rovérsio atuando pelo Paços de Ferreira, marcando Riquadro Quaresma, do Porto

Você passou 4 anos em Portugal e está para concluir a quarta temporada na Espanha? Qual é a diferença de Portugal e Espanha?

Eu tive mais dificuldade ao chegar em Portugal do que na Espanha. O futebol espanhol é o melhor do mundo, essa coisa de ter a dinâmica, de ser mais rápido e de ter mais força, eu pude realizar nos quatro anos em Portugual. Isso me ajudou bastante. A forma de jogar, com mais toque de bola, e não sei se por ser brasileiro, ficou mais fácil. E também tinha mais experiência. Tudo na vida, se você passar mais dificuldade aqui, vai ficar mais amadurecido na frente. Quando eu saí do Brasil, tinha 20 anos e ainda morava com meus pais em Itamaracá, e isso mexe um pouco com o jovem que sai de casa. Quando eu vim para a Espanha, já sabia bem.

Há oito anos longe do antigo lar, já levou seus pais para a Espanha?

Meus pais seguem morando em Itamaracá, perto do Pilar. Mas já vieram para Espanha me visitar. Minha irmã veio para Portugal passar um tempo comigo, quando Sidraílson voltou para o Brasil, eu estava sozinho. Hoje estou tranquilo. Sou casado com uma portuguesa, Joana, que conheci na época do Gil Vicente. Já levamos sete anos juntos e elá esperando o nosso primeiro filho. Vai se chamar Lucas. Deve nascer em junho.

Como você avalia o seu momento no Osasuna?

Graças a Deus, me sinto bem. Tenho um treinador que confia bastante em mim [José Luís Mendilibar]. Então a única coisa que tem me atrapalhado é um pouco as lesões. No primeiro ano, tive uma lesão grave no joelho e só voltei depois de um ano. Então, em seguida, tive outras oportunidades. Ano passado fui emprestado para o Bétis, joguei a maioria do campeonato. Foi bom porque, no Osasuna, no ano anterior, eu tinha voltado da lesão do joelho e o treinador não tinha muita confiança em mim. Foi bom o empréstimo, fomos campeões e esse ano voltei, e o treinador tem me dado oportunidades. Recentemente tive que ficar quatro semanas fora por uma lesão no ísquio. Das vezes que tou disponível, sempre tenho sido convocado. Marquei um gol importante contra o Zaragoza, quando sofremos um gol aos 40 e eu empatei aos 42. Pude ajudar o time e dedicar o gol a meu filho. Eu coloquei a bola embaixo da barriga e o dedinho da chupeta na boca. Em seguida tive uma sequência de jogos. Getafe, Levante, Real Madrid.

Você foi titular contra o Real Madrid na lateral direita e chegou a dar o passe para o gol do seu time. Como é jogar contra jogadores como Messi e Cristiano Ronaldo?

Sim, fiz o passe, mas infelizmente o nosso time foi goleado. Olha, eu me sinto um privilegiado em fazer parte de jogar, primeiramente, uma das maiores ligas do mundo. Isso já é uma coisa muito legal, muito gratificante. Tu te sentes um jogador de futebol ao jogar essa liga. E, contra Real Madrid e Barcelona, nem se fala. Estar diante dos melhores do mundo é incrível, maravilhoso, estar em campo com os jogadores... Eu só tenho a agradecer.


Osasuna x Real Madrid: Rovérsio disputa bola de cabeça com Cristiano Ronaldo

Quais são seus sonhos hoje em dia?


Eu mesmo acho que quem tá no Brasil e pensa ser jogador de futebol, quando vê a Liga Espanhola, sonha um dia participar. Eu sempre sonhei mesmo quando saí do Santa Cruz para o Campeoanto Português. Alcançar essa meta de jogar uma Liga Espanhola. E, graças a Deus, hoje faço parte. É muito legal acordar, treinar e no fim de semana jogar uma liga dessas.

O que você ainda pode conquistar?

Em relação a futuro, encaro com naturalidade. Eu creio que, se fizer as coisas boas no Osasuna para mim, vai acontecer o melhor. É um grande clube, tem uma estrutura maravilhosa, pessoas que ficam 100% para o que tu precisar. Tu trabalhando bem aqui as coisas vão acontecer naturalmente. Eu já sou um cara realizado de estar aqui, mas sempre querendo mais.

O seu contrato está encerrando. Você já recebeu convite para renovar ou ir para outro clube?

Eu estou em fim de contrato, faltam poucos jogos, está tudo em aberto. Tenho meu agente. Nunca me estressei a esse respeito, de saber para onde eu vou. O meu trabalho é dentro de campo e fazer o meu melhor. E logo vai acontecer naturalmente. Meu desejo é ficar aqui, a torcida me respeita muito, as pessoas do clube também. Mas é preciso a outra parte querer. Meu pensamento é seguir.

Você se mantém informado sobre o futebol pernambucano?

Sim, eu acompanho sempre que posso. Chego a escutar jogos na Rádio Jornal pela internet. Poucas vezes passa jogos na TV. Eu tenho também o PFC, mas eu sempre tenho acompanhado. Às vezes tem uns colegas que tão jogando por aí.

Você torcia para qual clube na infância e adolescência?

O Santa Cruz mesmo. Já de casa, minha família é toda tricolor, só tem uma ovelha negra que é meu pai, rubro-negro. Mesmo quando eu jogava, às vezes que eu joguei contra o Sport cheguei a trocar camisa para dar para ele. Mas no fundo ele sempre torcia para mim. Eu sempre tive admiração pelo Santa Cruz. Por coincidencia da vida é onde eu pude me firmar como jogador. Hoje em dia, eu vejo notícia dos três times, agora quando vai ser jogado um clássico eu sempre torço pelo bom futebol, que ganhe quem merece ganhar. Eu torço pelo Santa e quero que ganhe porque eu vivi alguns momentos legais e creio que é uma torcida que merece.

Ainda se lembra do Arruda lotado?

Sim, são coisas que não se apagam da memória da gente, por mais que os anos passem. Mas é difícil de esquecer. A torcida do Bétis também me marcou porque incentivou muito para conquistarmos o campeonato ano passado.

Gostaria de voltar algum dia para o futebol pernambucano?

É uma coisa difícil de responder porque eu sou muito de trabalhar, e Deus que nos guie. Eu acho que eu tou bem aqui e quero seguir aqui por muito mais tempo. Mas é uma coisa que eu nunca posso dizer "não" nem "sim". É uma hipótese. Para agora, é uma coisa que eu não penso. Graças a Deus, estou muito bem aqui. Prefiro seguir mais anos aqui.

No tempo livre, o que você gosta de fazer?

Fico muito em casa, às vezes saio para o shopping com a mulher, dou uma volta. Saímos para almoçar ou jantar. Aqui temos companheiros, mas de brasileiro só tem eu nessa cidade [Pamplona]. Mas tenho amizade com outros jogadores. Gosto de ver jogos na internet e escutar música.

Que tipo de música ouve?

Gosto de pagode. "Ai se eu te pego" pegou mesmo aqui. É legal. A gente tem curtido essa música. No vestiário do Osasuna, é o que mais toca. Todos gostaram. Também gosto de Revelação, Zeca Pagodinho, Exaltasamba. E os bregas do Recife. Às vezes que eu tenho ido a Itamaracá eu escuto bastante.

Em termos de cultura, o que você destaca da vivência em Portugal e na Espanha?

É sempre diferente, tu sai do país acostumado com uma cultura e vê outra, mesmo não tendo dificuldade na língua. Ajudou bastante falar a mesma língua em Portugal. Mesmo assim, no começo é um pouco difícil, porque eles falavam da maneira deles. Para a gente, eles tinham que falar mas "despacio" [palavra do idioma espanhol que quer dizer "devagar"]. Comida também foi uma coisa que não teve problema, se encontrava feijão, macarrão, tudo que tinha no Brasil. Não tive dificuldades de cultura. E o pessoal recebeu a gente muito bem. Eu diria que a maior dificuldade foi o frio. Nem se compara com Itamaracá.

E na Espanha?

Pamplona é a cidade dos touros. Aqui tem muma festa muito popular conhecida como "San Fermin". Eles liberam os touros nas ruas, que são bem estreitas, e o pessoal sai correndo, os toros em cima. É bem diferente. Eu nunca fui a uma, é um pouco perigoso. Mas sempre que pode acompanhamos aqui mesmo. Outro dia a gente foi convidado para assistir. Tem um museu que mostra a história da festa, atrai bastante gente. Vivemos perto de uma praia muito boa, em San Sebastian, perto de Bilbao. É excelente, mas eu não troco Itamaracá por ela.
Do: Blog do Torcedor.

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